"São dias sem presença, dias de mentalidade sem corpo, dias de proximidade, estamos longe e perto"

Você disse então finalmente adeus, o tal do adeus que eu mesmo não tive a coragem de firmar, assumir a vazante estanque do riacho, a última olhada pra trás antes de deixar a praia num final de tarde.

Você disse adeus e me jogou talvez para o sentido forte da palavra: será um deus este vazio onde nos encontramos na ausência de gestos e caminhos? A morte seria simplesmente isso? E como embarcar neste barco paralisado, cheio de furos e madeiras velhas, e encarar a maré lisa de cada manhã sem destino?

Você disse adeus, palavra intraduzível, dividida entre o ritmo de meu corpo aliviado e descontraído, ao mesmo tempo em que preocupado com tua ausência e esta tamanha falta de caminhos.

Você na verdade escreveu o adeus em plena conversa de Whatsapp. São dias sem presença, dias de mentalidade sem corpo, dias de proximidade com a longitude de hemisférios, estamos perto e estamos longe, matéria de sofrimento, perdidos nas várias possibilidades do querer vazias.

Você disse adeus, e eu dei a curva na volta do sol, fui até o café da esquina, fiz todas as lutas e atos e protestos possíveis, fiz greves proibidas, barricadas, organizei atos, mas voltei até aqui mesmo, cão carregado das referências de sempre, e não consegui divisar para além do território de meus olhos e sentidos.

Mas você disse adeus, sabe lá o tanto que se queira dizer com isso tudo.

Edição: Lucas Botelho