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Não seremos silenciadas

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Carol Dartora é a primeira vereadora negra da cidade de Curitiba - Divulgação
Mas se o plano deles é tentar nos fazer desistir, que eles saibam que somos resistência

Se por um lado a representação de mulheres nos espaços políticos vem ganhando corpo, resultado de muita luta dos movimentos de mulheres feministas, também temos observado e vivenciado o aumento da violência política. Essa doença ataca a democracia e demonstra o quanto ainda precisamos avançar no combate às desigualdades de gênero e raça no nosso país.

Um dos episódios recentes mais marcantes de violência política de gênero no Brasil é o assassinato da vereadora Marielle Franco. Mulher negra, lésbica, periférica, sua atuação trouxe à tona o quanto essa prática é ainda mais intensa e odiosa contra as mulheres negras, pois pautamos a transformação de estruturas opressoras.

Mulheres eleitas, que transformam as estruturas impostas, geram incômodo para aqueles que não suportam nossa presença e nossas reivindicações pela defesa da vida, por respeito e igualdade, por uma sociedade que não seja apenas para alguns, mas para todas e todos. 

Somos atacadas desde as campanhas eleitorais e, depois de eleitas, submetidas a questionamentos sobre as nossas competências, vida privada, aparência física, somos assediadas, ameaçadas, interrompidas, humilhadas. Somos atacadas simplesmente por sermos mulheres, por estarmos em um espaço de poder.

Mesmo com a entrada em vigor da Lei 14.192/2021, que altera o Código Eleitoral para estabelecer normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra as mulheres durante as eleições e no exercício de direitos políticos e de funções públicas, muitos ainda ignoram que trata-se de um crime.

Recentemente, durante a discussão e votação do projeto de lei que apresentei para dar o nome de Marielle Franco para um CMEI de Curitiba, a Câmara Municipal foi transformada em um palco de violência política, de gênero e de raça, com interrupções, deboche e demonstrações de desprezo.

Obviamente, por se tratar de uma proposta apresentada por uma mulher negra para homenagear uma mulher negra reconhecida mundialmente, não agradou aqueles que se acham donos de um espaço historicamente monopolizado por homens brancos. A votação ocorreu no mesmo dia que o assassinato brutal de Marielle completou quatro anos. No entanto, infelizmente o projeto foi rejeitado.

Mas se o plano deles é tentar nos fazer desistir, que eles saibam que somos resistência e não seremos silenciadas, interrompidas ou barradas. Fui a primeira mulher negra eleita em Curitiba após 327 anos de história desta cidade e vamos continuar avançando. Outras virão depois de mim, pois a nossa luta antirracista e feminista é imparável.

Edição: Ana Carolina Caldas