Paraná

SOLIDARIEDADE E LUTA

Mulheres do campo e da cidade se unem em ações solidárias e mobilizações, em Curitiba

Marcha do Dia Internacional da Mulher acontece nesta terça, com saída às 18h, da Praça Santos Andrade, centro da capital

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Como parte da programação da Jornada, mais de 60 voluntárias(os) fizeram o plantio agroecológico de 27 mil mudas, neste sábado (5) - Juliana Barbosa / MST-PR

Por Leonardo Henrique e Ednubia Ghisi, do MST-PR

Ao longo desta semana, mobilizações ocorrem em todo o Brasil para denunciar todas as formas de violência contra as mulheres e fortalecer a união entre campo e cidade. Em Curitiba, a marcha do Dia Internacional da Mulher traz como lema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”. A manifestação acontece nesta terça-feira (8), com concentração a partir das 16h30 e saída às 18h, da Praça Santos Andrade, centro da capital paranaense.

A Jornada de Luta das Mulheres em Curitiba irá até o dia 14 e inclui mutirões de plantios agroecológicos, doações de sangue, produção e doação de marmitas a pessoas em situação de vulnerabilidade.

A programação é uma aliança entre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Rede de Mulheres Negras do Paraná, Frente Feminista de Curitiba, Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Movimento Popular por Moradia (MPM), o Núcleo Periférico e ocupações urbanas.

A luta contra os despejos é uma das principais pautas da Jornada de 2022, e levará moradoras de ocupações para a marcha do dia 8. A crescente crise humanitária pela qual o Brasil passa pode ser agravada com a suspensão da lei que proíbe despejos e reintegrações de posse contra famílias vulneráveis. Criada no início da pandemia para proteger a população que vive em comunidades, o prazo para a legislação deixar de valer é 31 de março.


“Marcha dos ossos” realizada por mulheres no Centro de Curitiba, em 2021, em protesto contra a fome. / Juliana Barbosa / MST-PR

O número de ocupações urbanas cresceu em todo o país desde o início da pandemia da Covid-19, reflexo da crise econômica e humanitária pela qual o país atravessa. Neste período, mais de 23 mil famílias foram expulsas de suas casas e outras 123 mil estão sob risco de despejo nos próximos meses, de acordo com balanço divulgado pela Campanha Nacional Despejo Zero, que avaliou dados de março de 2020 a outubro de 2021. Os números significam elevação de 554% no número de famílias ameaçadas de ir parar nas ruas.


Entrega das Marmitas da Terra na ocupação Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba, em 2020. / Ednubia Ghisi / MST-PR

Em todo o Paraná, mais de 70 comunidades do MST ainda lutam pela efetivação da reforma agrária. Em âmbito nacional, são cerca de 200 acampamentos com ameaça direta de despejo. Cerca de 20 mil crianças de até 12 anos vivem nestas comunidades.

Plantar para enfrentar a fome

No sábado (5), camponesas(es) da Reforma Agrária e trabalhadoras(es) urbanas somaram forças no mutirão de plantio agroecológico de hortaliças, nas roças coletivas do Assentamento Contestado, na Lapa.


No próximo sábado, dia 12, haverá continuação do mutirão nas lavouras e também de árvores pelos 4 anos do assassinato de Marielle Franco / Wellington Lennon / MST-PR

Mais de 60 voluntárias(os) fizeram o plantio agroecológico de 27 mil mudas de repolho, escarola, couve, rúcula, salsinha, cebolinha, beterraba, brócolis e couve flor. A atividade tem acompanhamento técnico de integrante da Escola Latino Americana de Agroecologia, que fica no assentamento.

Além do trabalho na roça, as/os participantes puderam participar de uma formação sobre como a agroecologia pode discutir novas relações humanas, com respeito e dignidade. O momento formativo teve a contribuição de Maria Izabel Grein, da direção estadual do MST, Daraci Rosa, da Marcha Mundial das Mulheres, e também da cantora e militante Aline Castro, da Fuá Assessórios.

A integrante da direção do MST enfatizou que a construção da agroecologia passa pela transformação das relações dentro de casa, desde a divisão de tarefas, passando pela decisão sobre o que plantar: “Não é só uma mudança na relação com a terra e com a vida, é uma mudança nas relações sociais”.


A formação ocorreu no Centro Cultural Casarão do Assentamento Contestado / Foto 1: Leonardo Henrique; Foto 2: Juliana Barbosa / MST-PR

Para Isabel, a agroecologia é “perigosa” porque está formando uma nova sociedade. “É nesta sociedade do capital que nós vamos gerar a nova sociedade, e isso interessa muito mais para mulheres do que para os homens, porque eles terão que mudar e abrir mão de privilégio”, afirmou.

A atividade vai continuar no sábado seguinte (12), com plantio de árvores pelos 4 anos do assassinato de Marielle Franco, completados em 14 de março. Além do plantio, os dois dias terão apresentações culturais e formação.

A produção nestas lavouras vai compor o cardápio das Marmitas da Terra, distribuídas semanalmente para pessoas em situação de rua e famílias em situação de vulnerabilidade em Curitiba e Região Metropolitana. Desde maio de 2020, foram mais de 100 mil refeições produzidas. Parte dos itens serão doados durante a Jornada de Agroecologia, prevista para junho deste ano, na capital paranaense.


Todas as quartas-feiras, 1.100 Marmitas da Terra são produzidas e distribuídas para pessoas em situação de rua e moradoras/es de ocupações da capital / Fotos: Leonardo Henrique / MST-PR

Na quarta-feira (9), as Marmitas da Terra serão preparadas e partilhadas em praças e comunidades de Curitiba. Na tarde de terça-feira (8), a equipe voluntária vai fazer o pré-preparo das refeições.

Confira aqui a programação completa da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra do Paraná. A campanha também engloba materiais de higiene. No dia 3 de março, em Palmas, sudoeste do estado, além de 80 cestas de alimentos, a comunidade Marielle Franco recebeu sabão produzido pelo Coletivo de Mulheres Ana Primavesi, do MST da região.

 

Programação completa da Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra, em Curitiba:

  • 05 de Março - Sábado
    Assentamento Contestado, Lapa (PR) - mutirão de plantio agroecológico de 40 mil mudas de hortaliças. A atividade envolve moradores da comunidade e integrantes de movimentos sociais urbanos. Estudo sobre gênero.

  • 06 de março - Domingo
    Produção de materiais para a marcha no dia 08.

  • 07 a 11/3 - Segunda a sexta-feira
    Doação de sangue para o Hemepar, Tv. João Prosdócimo, 145 - Alto da XV.

  • 08 de março - Terça-feira 
    - Pré-preparo das Marmitas da Terra.
    - Marcha com o tema “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome!”. Local: praça Santos Andrade, centro. Concentração a partir de 16h30 com apresentação cultural. Denúncia de violências como despejo zero e a situação da periferia da cidade. Distribuição de kits de cuidado pessoal. Intervenção contra agrotóxicos. Saída prevista às 18h00.

  • 09 de março - Quarta-feira
    Produção e partilha de 1.100 Marmitas da Terra em praças e ocupações urbanas de Curitiba e Região Metropolitana

  • 10 de março - Quinta-feira
    Solidariedade internacionalista com lutas de mulheres por todo o mundo

  • 11 de março - Sexta-feira
    Lançamento digital da carta das Mulheres Sem Terra

  • 12 de março - Sábado / Assentamento Contestado, Lapa
    - Continuidade do plantio de verduras e legumes no Assentamento Contestado.
    - Plantio de árvores pelos 4 anos do assassinato da Marielle, completados na segunda-feira, dia 14.
    - Atividades culturais: hip hop e grafite
    - Núcleo Periférico pautando racismo e a violência sofrida pelo povo negro
    - Mística de encerramento

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Edição: Lucas Botelho