Paraná

Transporte Público

Entre o pão e o busão: aumento do ônibus assalta bolso dos trabalhadores

Com inflação descontrolada e trabalho informal, famílias lutam para sobreviver

Curitiba |
Tarifa aumenta, mas serviços continuam ruins - Giorgia Prates

Onze reais ida e volta. Desde o começo de março, esse é o valor que um curitibano usuário do transporte coletivo gasta para sair e voltar para casa, se tiver de pegar apenas um ônibus em cada trajeto. O reajuste de 22% na tarifa feito pelo prefeito Rafael Greca foi contestado pela sociedade civil, que organizou ato contra o tarifaço, puxado por entidades estudantis, e gera revolta na população.

Se considerada ainda a inflação, os bolsos dos trabalhadores ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato Paraná ficaram mais vazios. A inflação oficial no Brasil de 2021 foi de 10%, bem abaixo do aumento da tarifa de ônibus. Mas Curitiba teve um dos maiores aumentos na cesta básica entre as capitais brasileiras, de 16,3%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Os curitibanos pagaram mais alto no café (76,63%), açúcar refinado (73,25%), tomate (35,46%), farinha de trigo (33,82%), carne bovina de primeira (18,02%) e pão francês (14,14%).
O drama do aumento da tarifa, apesar da justificativa da prefeitura de ter segurado por dois anos os valores, afeta sobretudo quem está em situação de maior vulnerabilidade e sofre com a inflação. Na Caximba, bairro pobre da região sul da cidade, moradores que enfrentavam as dificuldades impostas pela pandemia, agora buscam uma forma de se locomover para irem trabalhar. Com todos esses aumentos, é escolher entre o “pão e o ônibus”, diz o pastor Jorge Nunes, líder na região.

Com vários na informalidade, sobretudo mulheres, precisam escolher entre comprar comida ou pagar passagem. “Para as famílias pobres, as que fazem reciclagem, já vai impactar. Os que estão desempregados não terão dinheiro para o pão. Com um aumento de 1 real, para uma família com três crianças, já influencia no café da manhã, na compra do gás, sem falar no transtorno de andar nos ônibus lotados tendo que pagar por uma das tarifas mais caras”, analisa o pastor Jorge.

Matilde Galvão, trabalhadora doméstica, moradora da Caximba, cita que o aumento do ônibus afetou o orçamento de sua família, sendo que tem que pagar dois até chegar ao trabalho. “O dinheiro tá todo contadinho para o final do mês, para pagar as contas, a gente trabalha para isso e para comer. É um descaso conosco. Eu já ganho pouco, então fica bem difícil a situação.” Matilde conta que, além do gasto pessoal com passagem, precisa dar conta ainda da gasolina para levar e buscar o neto na escola. “Ele mora aqui comigo, além do gasto com passagem de ônibus que eu e meu filho temos, soma o valor da gasolina para buscar ele na escola, o que encarece tudo mais ainda.”

Enquanto Matilde luta para manter as contas de sua casa em ordem, a prefeitura de Curitiba vem tentando justificar o aumento. “A chamada tarifa técnica, que representa o custo real por passageiro, e é pago pelo município às empresas de ônibus de forma a manter o sistema em operação, subiu 32% desde 2019 e está atualmente em R$ 6,36. A projeção da Urbanização de Curitiba (Urbs), que gerencia o transporte coletivo na cidade, é que a tarifa técnica terá variação entre R$ 6,36 e R$ 7,20 até fevereiro do próximo ano'', afirmou o executivo municipal em nota.

Para o professor aposentado da Universidade Federal Paraná e doutor em Desenvolvimento Econômico, Lafaiete Neves, com uma série de subsídios dados pela prefeitura e licitações favoráveis para os empresários do transporte, a tarifa deveria ser mais baixa, e compara com a situação com o município vizinho, Araucária, que baixou o valor da passagem para R$ 1,70. “Em Araucária, o prefeito dá subsídio que nem o Greca, aí eu pergunto, Curitiba aumenta o subsídio, subsidia a compra de ônibus e a passagem aumenta, alguma coisa nesta história tá errada'', questionou em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, que pode ser vista na íntegra no Facebook do BDF-PR. O especialista também afirmou que o valor da tal “tarifa técnica” é calculado numa planilha em que todos os gastos são lançados pelas próprias empresas de ônibus, sem nenhum controle ou fiscalização da Urbs ou da prefeitura. As empresas beneficiadas é que determinam todos os números.

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Edição: Frédi Vasconcelos