Paraná

MACHISMO EM QUESTÃO

Artigo | Guerra, turismo sexual e assédio: como homens se aproveitam para abusar de mulheres

Não foi um caso isolado. Em 2016 a mesma dupla que estava na Ucrânia foi acusada de assediar estudantes

Curitiba (PR) |
Famílias ucranianas tentam cruzar a fronteira com a Hungria a pé; ONU atua para reforçar ajuda humanitária - ©Attila Kisbenedek / AFP

Sexta-feira (4) vazou um áudio do deputado estadual de São Paulo Arthur do Val, ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL), que foi para a Ucrânia supostamente ajudar o país na guerra com a Rússia. No áudio, o homem diz ter encontrado na fila de refugiadas "mulheres deusas" que demonstravam interesse por ele por serem pobres, as “gold diggers” que quer dizer mulheres que ficam com os caras pensando no dinheiro. E ainda reforça que Renan, outro membro do MBL, vai todo ano para a região fazer a “tour de blonde”, que nada mais é que turismo sexual.

Cabe ressaltar que as mulheres do Leste Europeu como ucranianas, búlgaras, romenas e russas, fazem parte de uma rota de tráfico de mulheres que são prostituídas em outros países da Europa. Essas mulheres são leiloadas para exploração sexual na Alemanha, Itália e França. Apelidadas como “Natashas”, são encontradas com facilidade em categorias de sites pornô, mulheres jovens, cabelos e olhos claros, magras e que “aguentam ‘sexo’ violento” ¹. Desde o início da guerra aumentaram a busca por pornografia com a palavra ucranianas. 

Com o fim da União Soviética muitos países do Leste Europeu não conseguiram recuperar sua economia e a desigualdade social deixou muitos na miséria. Nessas circunstâncias de extrema vulnerabilidade, as mulheres são levadas a aceitar posições subalternas. É notável e comprovado que em momentos de crise econômica e situação de pobreza a prostituição cresce. Arthur aprendeu com Renan e ensinou: “não vá para o litoral, vá para cidades normais”, assim as mulheres em situação de pobreza se tornam fáceis para “pegar” esses urubus repugnantes que se aproveitam e reivindicam o acesso sexual aos corpos das mulheres nas condições mais desumanas.

No livro da ucraniana Svetlana Alesksiévitch, "A guerra não tem rosto de mulher", o qual resgata a memória de mulheres soviéticas que serviram na luta contra o nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, há diversos relatos sobre o sofrimento das mulheres durante esse período. Medo, falta de perspectiva, abusos sexuais, tristeza, perdas, distúrbios físicos e mentais. Há um relato de uma moça que não menstruou por três anos tamanho estresse emocional causado pela situação.

Em período de guerra, sem perspectiva de trabalho, em meio ao medo e às perdas, Arthur está usando do seu mandato como deputado para objetificar mulheres ucranianas em um dos piores momentos que estão passando. 

Mas, esse não foi um caso isolado. Em 2016 a mesma dupla que estava na Ucrânia foi acusada de assediar estudantes menores de idade durante as ocupações das escolas na capital do Paraná. 

Os relatos, assim como as filmagens, demonstram que Renan e Arthur foram para porta do Colégio Estadual do Paraná para “entrevistar” de forma violenta e questionar os motivos da ocupação. Em meio a provocações aos estudantes, houve relatos de falas machistas e assédio por parte dos membros do MBL. Dois homens adultos indo intimidar meninas, menores de idade, em uma escola.

É fato que desde seu surgimento o MBL não respeita as mulheres. Vale lembrar que a organização esteve ao lado de figuras como Eduardo Cunha, Bolsonaro, atualmente apoiam a candidatura de Sérgio Moro, agora em articulação com grupos neonazistas da Ucrânia. Sempre envolvidos em pautas conservadoras e misóginas, se aproveitaram da situação absurda para assediar refugiadas da guerra. Como bons liberais eles esperam que os corpos das mulheres estejam à venda como mercadorias no mercado capitalista.

1. Sexo está entre aspas pois não se trata de sexo, mas de abuso e violência.

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Edição: Pedro Carrano