Paraná

Negligência

Após morte de técnico de som em evento no Paraná, entidades exigem fiscalização das empresas

Acidente aconteceu no evento Carnavibe, cujo alvará já havia sido negado pela Policia Civil  

Curitiba (PR) |
Técnico morreu durante trabalho na preparação do Carnavibe, que aconteceu em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba - Foto: Divulgação

Arlei Braz Rocha, 39 anos, eletricista de eventos, morreu eletrocutado durante o trabalho, na segunda-feira (14), em uma chácara no centro de Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), onde ocorria a preparação para o Carnavibe. Descrito como “carnaval eletrônico”, o evento chegou a ser ameaçado de não ocorrer após a Delegacia Móvel de Atendimento a Futebol e Eventos (Demafe) negar o alvará, sob alegação de promover aglomeração.

Técnicos que trabalhavam no local disseram que a empresa não forneceu Equipamentos de Proteção Individual (EPI's) adequados e foi omissa quanto ao cumprimento de medidas para segurança do trabalho.


Eletricista de eventos morreu eletrocutado durante preparação do Carnavibe / Foto: Arquivo pessoal

O trabalhador foi localizado por colegas de serviço, que acionaram o socorro. Foram feitas diversas manobras de reanimação, sem sucesso. Segundo Elisa, esposa de Arlei, a empresa demorou a prestar socorro e, inicialmente, se negou a ajudar a família.

“O que eu soube é que ele estava sem EPI, descalço e demorou 40 minutos para chegar ambulância. A empresa se negou a nos ajudar e só depois que eu insisti e disse que era dever deles, nos auxiliaram com o enterro. Quero que se faça justiça”, diz. A esposa conta que o marido trabalhava há anos na empresa e nunca teve um curso sobre segurança no trabalho e que Epis, era ele quem comprava quando tinha dinheiro. " Epis ele nunca soube o que era, nunca teve um curso e olha que Arlei trabalhava há muito tempo com essa empresa. Ele comprou um tênis para ir nesse trabalho porque a empresa não forneceu um sapato de sola de borracha que é o ideal para o que ele iria executar," conta.

A Polícia Civil, por meio da Delegacia de Campina Grande do Sul, abriu um inquérito que corre sob sigilo.

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Falta de EPI's e supervisão

Para colegas de trabalho que também estavam no evento, a causa da morte de Arlei foi a negligência da empresa Planeta Brasil em relação à segurança de trabalho.

“Ele estava fazendo uma conexão para alimentar um [cabo de energia] AC para o teste do palco. Estava sozinho, sem EPI's porque a empresa não forneceu. Podemos dizer que a empresa também não garantiu que o trabalho fosse feito nas condições legais”, disse um colega que não quis ser identificado.

“Ele ficou 20 minutos levando choque atrás de um fechamento de zinco. A gente que socorreu e foram mais de 40 minutos para que a empresa acionasse ambulância”, relata outro integrante da equipe de trabalho, que também preferiu manter a identidade preservada.

Entidades pedem fiscalização

Luiz Nobre, que é técnico de espetáculos em Curitiba há mais de 30 anos, diz que essa é a realidade da maioria dos eventos e empresas.

“O que aconteceu ao Arlei não foi acidente e nem fatalidade, já que 90% dos trabalhos técnicos da área de eventos não cuidam da segurança dos trabalhadores, além de pagarem cachês baixos, em torno de 100 ou 150 reais por mais de 12 horas de trabalho. E cobram por vezes dos contratantes 350 reais por técnico”, relata.

O Sindicato de Artistas e Técnica em Espetáculos de Diversões do Estado do Paraná (Sated), em nota, reiterou que situações como essa não devem ser normalizadas.

“Não podemos mais tratar casos como esse com normalidade e não podem, nem devem ficar impunes. O sindicato, junto aos trabalhadores da cultura, avançará nessas pautas, exigindo o uso de EPI's e cursos de segurança de trabalho para técnicos que trabalham com altura e altas tensões. Esperamos a adesão das empresas nessa questão”, diz trecho do texto. O Sated-PR está prestando auxilio jurídico à família de Arlei.

O Coletivo “Camisa Preta” de técnicos de eventos e espetáculos, se reuniu nessa semana com o deputado Goura (PDT), que intermediará uma reunião junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) para definição de diretrizes relacionadas à segurança do trabalho para todo o setor da técnica durante a estruturação de eventos de grande e pequeno porte.


Coletivo de técnicos se reuniu com deputado que intermediará reunião com Ministério Público do Trabalho / Foto: Mandato Goura

Policia Civil negou alvará

O evento já estava sendo investigado pelo delegado Luiz Carlos de Oliveira, do DEMAFE, que se negou a liberar o alvará para a realização da festa.

“Nossa posição é contrária, e enviamos um ofício ao Ministério Público para que se manifeste a respeito da festa. Ficamos sabendo que vai ocorrer depois do show, uma pós-rave. A empresa fez a estrutura para o show, teve uma pessoa que morreu eletrocutada e quem garante que não vai ocorrer um novo problema por lá?”, questionou o delegado, em nota à imprensa, cinco dias antes da realização da festa.

Apesar da negativa da Polícia, a Prefeitura de Campina Grande do Sul autorizou o evento, que acabou acontecendo no dia 19 de fevereiro.

A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a empresa Planeta Brasil, pedindo um posicionamento oficial sobre as denúncias. Até o fechamento da reportagem, não houve retorno.

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Edição: Lia Bianchini