Paraná

Câmara de Curitiba

Artigo | Os vendilhões do templo

Ataques e discursos demonstraram posições racistas com caráter de oportunismo político para condenar Renato Freitas

Curitiba (PR) |
Artigo da edição 245 do Brasil de Fato Paraná - Rodrigo Fonseca/CMC

Os acontecimentos, por ocasião do ato de protesto realizado pelos movimentos sociais contra o brutal assassinato de dois negros no Rio de Janeiro, Moïse e Durval, que culminou com a entrada dos manifestantes na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por pessoas escravizadas no século 18, no largo da Ordem, em Curitiba, geraram críticas ao vereador Renato Freitas, do PT, por estar presente no ato.

O tom raivoso dos ataques e dos discursos feitos demonstraram posições racistas com caráter de oportunismo político para condenar o vereador. E no rol desses oportunistas entram Sergio Moro, Bolsonaro, o prefeito Greca, o governador Ratinho Jr. e o líder do prefeito na Câmara de Curitiba, todos exigindo a cassação de Freitas.

A repercussão do fato possibilita reflexões, sendo uma delas a questão da fé e da religiosidade das pessoas. A rigor, o mandamento máximo da fé cristã manda amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Compare os atos de Jesus com a prática dos vereadores, que, sendo até pastores evangélicos, ameaçam o vereador Renato com a cassação do seu mandato, por ter entrado no templo católico. Porém, o ato foi pacífico, não houve depredação e logo os manifestantes saíram tranquilamente da igreja.

No “Templo da política” que é a Câmara de Curitiba, os vereadores, que formam a maioria do prefeito, aprovam projetos de milhões de reais para beneficiar poucos ricos da cidade.

Foi o que aconteceu quando 26 vereadores moralistas, alguns que condenaram o ato em defesa dos excluídos da nossa sociedade, aprovaram com 10 votos contrários da bancada de oposição, o desvio de R$ 320 milhões para meia dúzia de famílias de empresários de ônibus, que usam esse dinheiro público não para melhorar o transporte coletivo com uma tarifa justa, mas para investir em outras atividades econômicas, às custas dos pobres trabalhadores da nossa cidade e da região metropolitana de Curitiba.

*Lafaiete Neves é professor aposentado da UFPR, Doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR e Membro Titular do Conselho da Cidade de Curitiba pela APUFPR.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini