Paraná

Desindustrialização

Bolsonaro vai à Rússia por fertilizantes, enquanto para produção nacional

Fábrica fechada no Paraná ajudaria país a economizar bilhões em importações

Curitiba (PR) |
"Se investissem em fábricas nacionais, o Brasil melhoraria sua produção”, afirma petroleiro - Reprodução

“É um prejuízo contábil dentro da Petrobras. A nossa principal matéria-prima é fornecida pela Petrobras. Logo, esse fertilizante vai estar num custo extremamente elevado.” A declaração foi um dos avisos de um dos petroleiros em greve em 2020, durante a greve nacional da categoria, que paralisou a Petrobras por 20 dias, contra o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen), em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, sob a alegação de que causaria prejuízos.

Pouco tempo depois, a previsão do petroleiro Reginaldo Lopes, então diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Estado do Paraná (Sindiquímica), transformou-se em realidade. O Brasil fechou a fábrica e passou a importar cada vez mais fertilizantes, em dólar, com altos custos.

De acordo com dados da balança comercial brasileira, da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pela área econômica da Federação Única dos Petroleiros (FUP), só em 2021 o país gastou cerca de 15 bilhões de dólares em importações de adubos e fertilizantes químicos, 90% mais que no ano anterior, quando a Fafen foi fechada, sendo a segunda nação que mais importa o insumo no mundo.

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A viagem do presidente Jair Bolsonaro para a Rússia, de acordo com Observatório de Mineração, mirou mais na “garantia de suprimento de fertilizantes para o agronegócio brasileiro e, por consequência, manter uma de suas principais bases de apoio em ano eleitoral” do que numa hipotética interferência na crise contra a Ucrânia/Otan/Estados Unidos.

Para Gerson Castellano, diretor da Federação Única dos Petroleiros, a dependência externa do mercado internacional deixa o país vulnerável.

“Há, hoje, escassez de fertilizantes no mercado internacional, e países como Rússia, Irã e Ucrânia voltam sua produção para o mercado interno por conta do valor do gás que usam para aquecimento. O Brasil fica dependente desses países, e qualquer conflito internacional nos deixa com risco de desabastecimento”, analisa.

Sem fertilizantes, o agronegócio brasileiro pode sofrer em sua cadeia produtiva. Empresas de fertilizantes como PhosAgro e Ukalki, de acordo com o Observatório da Mineração, são os principais fornecedores do Brasil, uma delas (PhosAgro), tem como um dos seus principais acionistas Vladimir Litvinenko, um dos organizadores da campanha do atual presidente russo, Vladimir Putin, entre 2000 e 2004.

Castellano reflete que enquanto o Brasil precisa entrar em uma zona de guerra para garantir insumos para seu agronegócio, as fábricas de nitrogenados continuam fechadas.

“A ministra Tereza Cristina teve que viajar para o Irã, que é um dos maiores exportadores do mundo, para tentar garantir a entrega dos fertilizantes. O Brasil fica à deriva no mercado internacional graças a uma política antinacional e que prioriza a indexação de valores ao dólar, que também encarece os custos de produção no país”, avalia o petroleiro.

Tereza Cristina chegou a visitar a Rússia, quinze dias antes de Bolsonaro, e admitiu que a missão do presidente, longe de parar uma guerra, seria de pedir a Putin garantias de manutenção do fornecimento de fertilizantes e mais investimentos no setor. A ministra visitou fabricantes de fertilizantes, dentre elas a PhosAgro e Uralkali, para também reforçar o pedido.

Alexandro Guilherme, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC), lembra que haveria em abundância fertilizantes no Brasil, caso a Fafen estivesse aberta. “A Fafen usava matéria-prima mais barata, pois não usava gás. Se investissem em fábricas nacionais, o Brasil melhoraria sua produção”, afirma.

Castellano lembra ainda que a dependência prejudica os pequenos. “O pequeno agricultor, que produz alimento, não tem condições de importar adubo. Quando tínhamos a Fafen, lutávamos para que esse pequeno agricultor pudesse comprar fertilizantes por um preço módico”, reflete.

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Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini