Aliança fortalecida

China e Rússia elevam acordos, criticam EUA e pedem que Otan interrompa expansão

Após encontro entre Xi Jinping e Vladimir Putin em Pequim, comunicado conjunto cita 9 vezes os EUA e menciona Ucrânia

Brasil de Fato | São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) |

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Os presidentes de China e Rússia se encontraram em Pequim - Alexei Druzhinin / Sputnik / AFP

Pela primeira vez desde 2020, o presidente da China, Xi Jinping, recebeu um chefe de Estado em Pequim. O escolhido foi o líder da Rússia, Vladimir Putin, que aproveita a estadia para também participar da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno nesta sexta-feira (4) e cimentar a aproximação entre as duas potências nucleares.

"Nossas relações bilaterais progrediram em um espírito de amizade e de associação estratégica. São relações realmente sem precedentes", disse Putin. Xi, por sua vez, classificou a parceria como "inabalável, passada, presente e futura".

Os Ministérios das Relações Exteriores de China e Rússia publicaram um longo comunicado conjunto em que reafirmam a aproximação em diversas áreas, como cooperação na Nova Rota da Seda, diplomacia, comércio exterior, combate à pandemia de covid-19 e a defesa de um mundo "policêntrico".

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O documento, que pode ser acessado na íntegra em inglês neste link, cita os Estados Unidos nove vezes e critica a posição de Washington em tópicos como tratados para não proliferação de armas nucleares, planos militares e a movimentação estadunidense na região do Indo-Pacífico.

A declaração conjunta reafirma a posição conjunta de Moscou e Pequim sobre a tensão na Ucrânia. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirma que a Rússia se prepara para invadir a Ucrânia ao estacionar cerca de 100 mil militares perto da fronteira entre os dois países, enquanto os russos negam qualquer intenção bélica e pedem garantias de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não se expanda mais nas proximidades de suas fronteiras.

"As partes opõem-se a uma maior expansão da Otan e apelam à Aliança do Atlântico Norte para que abandone as suas abordagens ideologizadas da Guerra Fria, respeite a soberania, a segurança e os interesses de outros países, a diversidade das suas origens civilizacionais, culturais e históricas, e exerça uma atitude objetiva em relação ao desenvolvimento pacífico de outros Estados. Os lados se opõem à formação de estruturas de blocos fechados e campos opostos na região da Ásia-Pacífico e permanecem altamente vigilantes sobre o impacto negativo da estratégia Indo-Pacífica dos Estados Unidos na paz e estabilidade na região", diz o texto. 

China e Rússia também afirmam estar "seriamente preocupadas" com o acordo firmado entre Austrália, Estados Unidos e Reino Unido para fornecer submarinos nucleares aos australianos e afirmaram ter o mesmo entendimento sobre Taiwan — enquanto a ilha afirma ser independente de Pequim, a China diz que o território faz parte de seu país e rejeita a independência de Taipei.

Novo gasoduto

Putin anunciou nesta sexta um acordo para a construção de um novo gasoduto que fornecerá anualmente 10 bilhões de metros cúbicos de gás russo aos chineses. O ministro da Energia da Rússia, Nikolai Shulginov, e o presidente da estatal russa de petróleo e gás Rosneft, Igor Sechin, acompanham Putin em Pequim.

"Nossos petroleiros prepararam novas soluções muito boas no fornecimento de hidrocarbonetos para a República Popular da China”, afirmou o presidente russo.

Alvo de sanções que atingiram a economia russa após Moscou ter anexado a Crimeia em 2014, o comércio entre China e Rússia atingiu um recorde em 2021. De acordo com as autoridades chinesas, o comércio entre os dois países atingiu US$ 146,8 bilhões em 2021, cerca de R$ 781 bilhões. A cifra representa um aumento de 37,5% em 2021 na comparação com 2020.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, destacou após a cúpula entre Xi e Putin que o objetivo é fortalecer cooperação comercial entre os dois países ainda mais.

"O presidente Xi já traçou uma nova meta para nós: US$ 250 bilhões (R$ 1,3 trilhão). Para a China, isso não é tanto, mas para nós é uma meta muito, muito ambiciosa", afirmou Peskov. "US$ 250 bilhões é bastante realista, dada a atual dinâmica de desenvolvimento das relações bilaterais".

Repercussão em Moscou

O membro do Comitê de Segurança e Anticorrupção da Duma (câmara baixa do Parlamento russo), Adalbi Shkhagoshev, classificou a declaração conjunta de Rússia e da China como "artilharia política pesada".

"Não posso deixar de lembrar o que disse anteriormente: se a Otan e os Estados Unidos se comportarem de forma inadequada, a China entrará na conversa", enfatizou Shkhagoshev.

O deputado classificou a reunião conjunta dos líderes e seus resultados de "a melhor reação da Federação da Rússia à resposta que a OTAN deu" sobre garantias de segurança e observou que o Ocidente deve construir sua futura retórica com base nisso: "todas as dicas para Biden foram dadas".

Ainda sobre a Ucrânia, Shkhagoshev afirmou que a atual conjuntura "confirma a tese de que a última palavra será dos presidentes da Rússia e dos Estados Unidos. Biden tem 'material coletado', que são as reações da Rússia, levando em conta a opinião de Pequim", afirmou.

Edição: Arturo Hartmann