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ESTRUTURA NACIONAL

Artigo | Governo divulga avião como se fosse da frota dos Correios para encobrir seu desgaste

Pertence à Sideral Linhas Aéreas LTDA, cujo contrato de 2019 engloba 82% da despesa operacional da Rede Postal Noturna

Guarapuava (PR) |
A veiculação divulgação da maquiagem da aeronave fretada – a primeira de mais oito - acontece justamente em uma semana de notícias incômodas dando conta da estagnação econômica - @cwbspotteroficial/Jerfson Luan

O noticiário “chapa branca” e as redes sociais não se cansam de alimentar o vício de um governo que necessita de doses cada vez mais frequentes da droga do século: as notícias falsas, ou melhor, as fake news.

Esta semana as hordas bolsonaristas tentaram oferecer aos seguidores um espetáculo pirotécnico para encobrir a administração militarizada nos Correios e inventar um falso avião que pertenceria à empresa - tentando encobrir a má gestão e o próprio sucateamento dos Correios.

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, no passado alguns administradores visionários identificaram a oportunidade de fazer com que as cartas e malotes chegassem mais rápido aos seus destinatários, e naturalmente os Correios, então uma autarquia do governo, se valeu desse modal de transporte logo no primeiro ano da década de 1930.

Surgia aí o Correio Aéreo Nacional (CAN), operado pela FAB até os dias de hoje, sucateado por anos de falta de investimento como ficou demonstrado na vergonhosa falta de aviões que levassem oxigênio aos cidadãos que morriam sufocados em corredores de unidades de saúde do Amazonas.

Rede Postal Noturna

Em 1974, os Correios, já transformado em empresa pública, inaugura a Rede Postal Noturna (RPN), pois já naquela época Força Aérea já não acompanhava o crescimento das demandas postais crescentes.

Nesses 46 anos, a RPN operou via o fretamento de aeronaves de inúmeras empresas nacionais de aviação, afinal, não faz sentido adquirir aeronaves próprias para operar apenas uma das etapas de sua cadeia logística cada vez mais complexa sujeita a mudanças constantes.

Durante quase meio século os serviços de transporte aéreo de cargas postais foram operados de forma contínua, eficiente e sem alarde, assegurando que os brasileiros de qualquer lugar do país recebessem suas cartas e encomendas de forma rápida, segura e acessível.

Esse modelo não mudou, e tampouco mudará, como demonstra o fato de que empresas como DHL e FEDEX, duas gigantes logísticas, usam o mesmo formato: fretamento de aeronaves de terceiros para atenderem suas necessidades em constante mudança.

A despeito da ausência de qualquer mudança significativa, as cabeças pensantes que assessoram o governo tiveram a brilhante ideia de anunciar com toda a pompa, circunstância e pirotecnia a primeira “aeronave dos Correios”.

O avião fretado com a lataria devidamente pintada e adesivada, no entendimento das mentes iluminadas que vieram a reboque de Bolsonaro, seria a prova cabal do sucesso da alta gestão da empresa, loteada por militares famintos pelas benesses de seus elevados cargos na estatal.

São duas informações falsas: A primeira é que tenta-se dar a entender que a bela e pomposa aeronave seria dos Correios, não é. Trata-se de uma aeronave fretada, assim como todas as demais que prestam serviços para os Correios.

A aeronave que recebeu um “tapa na lataria” e uma “maquiagem”, na verdade pertence à Sideral Linhas Aéreas LTDA, cujo contrato assinado em 2019 custou R$ 440 milhões, e abocanhou 82% dessa despesa operacional da Rede Postal Noturna.

Não seria surpresa descobrir que esse valor tenha sido a pretexto de bancar a maquiagem em sua fuselagem, resta saber qual teria sido o custo desse espetáculo para os cofres da empresa.

A segunda informação falsa, consiste na afirmação de este seria o “primeiro avião com o logo da empresa", outra “Fake News” gestada no “ventre da serpente”. Uma pesquisa rápida na internet já nos direciona a uma imagem de 2018 de uma aeronave Embraer 110P1 customizada com o logo dos Correios, pertencente à empresa Bandeirante operado pela Transportes Aéreos Bacia Amazônica (TABA).

A veiculação divulgação da maquiagem da aeronave fretada – a primeira de mais oito - acontece justamente em uma semana de notícias incômodas dando conta da estagnação econômica, inflação alta, risco de colapso hospitalar, escândalos de corrupção e principalmente da fritura do ministro da economia, a incapaz de dar respostas aos problemas criados por ele mesmo e pelo governo que serve.

As veiculações coordenadas de forma pueril chegaram ao absurdo do anúncio ser quase simultâneo às declarações de Paulo Guedes de que “Correios e Eletrobras estão na pista para privatização”.

No Senado o Projeto de Lei, aprovado na Câmara após o atropelo do seu Regimento, enfrenta forte resistência, inclusive de inúmeros integrantes da infiel base aliada do governo, ávida por livrar-se da sua presença incômoda e apoderar-se do orçamento da União.

Especificamente sobre os Correios o ministro que se encontra em um processo de fritura contínua, chega a afirmar que “o Senado deve retomar agora a agenda e submeter à aprovação”, mais uma declaração que como outras não tem qualquer pé na realidade.

Nesse contexto, o espetáculo dos “aviões dos Correios”, na linguagem utilizadas pelos meus filhos, “flopou”, como felizmente também “floparam” algumas das maldades planejadas por um governo que nos deixa um legado de destruição, ódio, atraso e chagas profundas na nossa democracia.

Veja notícia sobre o avião

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Pedro Carrano