Paraná

Covid-19

Exigência de "passaporte da vacina" é alvo de protesto em Foz do Iguaçu (PR)

Obrigatoriedade do passaporte foi instituída por decreto da prefeitura, na sexta (21)

Curitiba (PR) |
Manifestantes protestaram contra decreto da prefeitura que obriga comprovação vacinal no município - Foto: Bruno Soares

Na manhã desta segunda-feira (24), a cidade de Foz do Iguaçu, região Oeste do Paraná, foi palco de um protesto capitaneado por pessoas contrárias à exigência do passaporte sanitário - o "passaporte da vacina" - no município.

Instituída por força de decreto baixado pelo prefeito Chico Brasileiro (PSD), na última sexta-feira (21), a obrigatoriedade de comprovação vacinal contra a covid-19 passou a valer para acesso dos cidadãos aos serviços públicos ofertados pela prefeitura, bem como para participação em eventos sociais, esportivos, clubes e casas noturnas.

Munidos de faixas e cartazes com mensagens críticas à vacina e à exigência do passaporte sanitário, os manifestantes promoveram aglomeração em frente à Câmara Municipal. Durante o ato, que contou com a reprodução do hino nacional brasileiro, a reportagem flagrou manifestantes sem máscaras de proteção e visivelmente despreocupados com os protocolos de combate à proliferação do vírus.

De acordo com informações da prefeitura, nos últimos 20 dias houve aumento de casos da doença e de internamentos no Hospital Municipal. “A prefeitura tem uma só posição e segue as orientações das equipes técnicas e do sistema de saúde”, afirmou o prefeito, ao destacar que ao menos 16 capitais brasileiras já adotaram a exigência do passaporte sanitário.

Dados computados até a última quarta-feira (19) dão conta de que dos 60 leitos para atender pacientes com covid-19 em Foz do Iguaçu, 40 estavam ocupados. Destes, 25 eram de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A secretaria de Saúde do município informou que, do total de internados na UTI, 10 não haviam sido vacinados contra a covid, 12 estavam com a dose de reforço atrasada e apenas três totalmente imunizados. Somados, os não vacinados e os que não tomaram a dose de reforço, representavam 88% dos internados em estado grave.

Entre as mensagens propagadas pelos manifestantes no ato contra o passaporte sanitário, frases favoráveis ao uso de medicamentos comprovadamente ineficazes ao combate à covid-19 se destacavam. “Somos contrários ao uso de uma vacina experimental. Defendemos a autonomia médica e o uso do tratamento precoce”, afirmava uma das manifestantes.


No ato, destacavam-se frases favoráveis ao uso de medicamentos comprovadamente ineficazes ao combate à covid-19 / Foto: Bruno Soares

Projeto anti passaporte sanitário

Em apoio ao movimento anti-passaporte sanitário, o vereador Kalito Stoeckl (PSD) apresentou um projeto de lei na Câmara de Vereadores com o objetivo de proibir a exigência adotada pelo prefeito.

“Quero deixar claro que não sou contra a vacina, mas entendo que as pessoas não podem ser obrigadas, ninguém pode ser obrigado a se vacinar”, defendeu o parlamentar.

De acordo com o autor da proposta considerada negacionista pelos técnicos da saúde, a ideia de apresentar o projeto partiu de um encontro com empresários da cidade.

“Recebi dias atrás uma comissão de empresários que me trouxeram esta ideia com base em um projeto semelhante apresentado na Câmara Municipal de Toledo. O que eu fiz foi adaptar para Foz do Iguaçu e apresentar para que seja averiguada sua constitucionalidade. Se não houver impedimento legal, levaremos para ser votado em plenário”, explicou o vereador.

Desserviço

Para a médica sanitarista Flávia Trench, professora assistente do curso de medicina da Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila), a proposta do parlamentar não tem embasamento científico e, se aprovada, pode causar mais infecções e mortes.

“Considero um desserviço à sociedade travestido de apoio à liberdade e à democracia, sem embasamento científico e podendo ser causador indireto de adoecimento e morte de pessoas por lançar sombras infundadas à segurança e efetividade da vacinação”, pontuou a especialista.

Flávia rebateu o argumento dos manifestantes contrários à exigência do passaporte sanitário ao destacar a comprovação da eficácia e segurança da vacina.

“A vacinação é uma grande arma para impedir a progressão da doença na sociedade e, com isso, a sobrecarga dos equipamentos de saúde. Precisamos entender que a vacina é um pacto social muito maior que qualquer questão individual”, finalizou.

Edição: Lia Bianchini