“A água tomou conta de toda a casa em cinco minutos. Tudo alagado com duas crianças pequenas, o desespero foi horrível. Perdemos alimentos, colchão e móveis. Ainda tem cheiro de esgoto no quarto das crianças. Com a pandemia, nossa situação já estava difícil, e agora vamos perdendo tudo a cada chuva.” Esse é o relato de Rafael Vieira, 33 anos, um dos moradores do Parolin, que perdeu pertences, móveis e grande parte da casa com as enchentes ocasionadas pelas fortes chuvas em Curitiba na última semana.
Segundo Angélica de Paula, liderança do bairro, cerca de 25 famílias tiveram suas casas inundadas e perderam mantimentos e móveis. Muitas delas, com crianças, permaneceram nas casas por não terem abrigo ou qualquer tipo de socorro por parte da prefeitura.
As ajudas acontecem entre os moradores. Uma das reivindicações feitas por quem vive no bairro é que as obras do Rio Belém, que acontecem desde 2018, sejam finalizadas. E pedem também que a Prefeitura visite o bairro em dias de chuva para compreender a situação crítica da comunidade.
Obra inacabada e omissão
“Esta obra está aí há alguns anos e a população à deriva. Isso, para nós, é consequência de descaso. A maioria das pessoas que são atingidas com as chuvas são trabalhadores, catadores de recicláveis, mães solo, pessoas que já têm inúmeras dificuldades e nenhum apoio do Poder Público", relata Angélica.
A moradora é uma das pessoas que organiza campanhas para doações de móveis e mantimentos para as famílias atingidas. "Em momento algum destas chuvas dos últimos anos eu vi alguém da prefeitura por aqui”, afirma.
Já Rafael disse ter ficado otimista no começo das obras, mas hoje só vê a situação ficar cada vez pior. “Olhamos as obras com otimismo, esperando que as coisas ficassem boas, mas pioraram para a maioria dos moradores. Já tivemos dificuldades com a pandemia e agora a cada chuva perdemos mais uma pouco”, diz.
A moradora Vanessa da Silva, que perdeu sofá, televisão e comida na semana passada também tem o mesmo sentimento. “A gente só quer que resolvam este problema do Rio Belém, que é um problema da cidade”, pede.
O rio passa no “valetão”, que é como os moradores chamam a obra para escoamento da água, feita pela prefeitura e que já acontece há mais de cinco anos.
Em 2019, o Brasil de Fato Paraná foi até o bairro e conversou com famílias que já sofriam com inúmeros problemas, além da obra inacabada, como falta de asfalto, de saneamento básico, falta de casas, pessoas vivendo na beira do rio em área de risco e uma enorme valeta a céu aberto.
Modelo de gestão excludente
O deputado estadual Goura (PDT) acompanha o problema desde o seu mandato como vereador e afirma que é preciso, com urgência, rever o modelo de gestão adotado pelo poder público.
“A prefeitura precisa ter um mapeamento atualizado de todas as regiões de risco para enchentes e inundações. Avisar e acolher a população, deixar a Defesa Civil disponível para áreas de risco", afirma.
Para o deputado, a atual gestão de Curitiba adota um modelo excludente de cidade. "Vale lembrar como esta obra vem sendo conduzida e questionar criticamente a total falta de urbanidade em áreas que estão consolidadas na urbanização de Curitiba, mas que não tem moradia, regularização fundiária, drenagem, áreas de lazer, entre outros. A prefeitura segue um modelo excludente e de invisibilizar comunidades com a situação precária como esta", critica.
A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Prefeitura de Curitiba pedindo esclarecimento sobre as reivindicações dos moradores. Até o fechamento desta matéria, não houve resposta.
Edição: Lia Bianchini