Paraná

Insegurança

Mãe de dois filhos se afasta de comunidade com medo de violência policial, em Curitiba

A pressão da Polícia Militar tem sido constante nas comunidades da capital do Paraná

Curitiba (PR) |
Moradores da comunidade Portelinha fizeram dois atos pedindo justiça para Eduardo Felipe Santos de Oliveira, morto em operação policial - Foto: Giorgia Prates

O nome da trabalhadora deste perfil será preservado, porque ela se mudou há pouco tempo da área Portelinha, onde vivia desde o início da ocupação, no bairro Portão, em Curitiba. Lá, o jovem Eduardo Felipe Santos de Oliveira, de 16 anos, foi perseguido e alvejado com, no mínimo, 15 tiros, pelas Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), no início de novembro.

Embora não estivesse no dia que o jovem carrinheiro foi morto a tiros na casa de uma amiga, ela mudou-se com dois filhos para outra região, com medo de represálias e novas ações na comunidade, tendo que agora recorrer ao aluguel, às dificuldades de levar os filhos para a escola, de recorrer à assistência social, entre outros problemas, na perversidade que é sair forçado de onde se vive. Ela espera soluções a partir da denúncia feita por advogados populares ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com acompanhamento da Defensoria Pública do Estado.

A reportagem é recebida numa casa com o portão coberto por lonas de fachada. Trabalhadora negra, vendedora ambulante, conta do clima de medo e insegurança que ronda a comunidade. Como já havia sido relatado para o Brasil de Fato Paraná, a pressão da Polícia Militar tem sido constante nessa e em outras comunidades: Parolin, Portelinha e, na madrugada do dia primeiro dezembro, ocorreu a execução de mais um morador em Campo Magro, na ocupação Nova Esperança.

O risco, de acordo com ela, é constante para as crianças. “Meu menino tinha saído há 10 minutos de casa, pousou noutra casa, minha outra afilhada caiu no chão, podia ter recebido os tiros”, afirma. Obtida com a ajuda de pessoas solidárias, a casa onde ela está agora tem melhor estrutura se comparada à anterior, na área onde, mesmo tendo mais de treze anos, soma-se na lista da luta pela regularização fundiária que nunca chega. Ela conta que chorou no primeiro dia, da varanda e com a nova vista para a rua. “Esse mundo é injusto, não quero uma mansão, mas uma vida digna, que todo mundo pudesse ter igualdade”, comove-se.

Comunidade fez protestos

Moradores da comunidade Portelinha, no bairro Portão, em Curitiba, fizeram dois atos pedindo justiça para Eduardo Felipe Santos de Oliveira, morto em operação policial.

No segundo ato, moradores vestiam camisetas com a foto do jovem, conhecido na comunidade como "Zé". Nos cartazes do protesto, a comunidade rebatia a versão da Polícia Militar sobre a morte, com frases como "Não foi confronto. Foi execução" e "A polícia mente, sempre joga os flagrantes nas mãos do inocente."

Segundo relatos ouvidos pela reportagem do BdF Paraná, o adolescente foi executado com mais de 15 tiros, dentro da casa de uma amiga. Eduardo estaria sentado na porta da casa, quando policiais da Rotam se aproximaram. Neste momento, teria se assustado e entrado na casa. A moradora relatou que os policiais chegaram atirando nas costas de Eduardo. A família guardou o casaco que o jovem usava no momento, que demonstra a quantidade de tiros. Eduardo era trabalhador da reciclagem e, conforme relatam moradores, muito querido na comunidade. 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini