cultura

‘Conseguimos dessacralizar a literatura’, diz Sérgio Vaz ao Programa Bem Viver

Segundo o autor, rodas de poesia nas periferias foram responsáveis por formação política de jovens

Ouça o áudio:

Sergio Vaz: "O mundo gosta das pessoas neutras, mas só respeita as que tem atitude" - Foto: Laysla Vasconcelos
Não tem como não lutar. É utopia ou barbárie

Para o poeta e liderança comunitária Sérgio Vaz, reconhecido nacionalmente por seus livros e prêmios, a poesia deve ser algo popular, político e que transforme o coletivo e o indivíduo. Ele reafirma que a população preta e periférica segue vivendo um cenário de exclusão e que é necessário ter utopias para seguir na luta por uma sociedade mais justa.

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“Foi nas nossas rodas de poesia que muita gente descobriu o que estava acontecendo no país, que muita gente voltou a estudar e que entendeu que poderia mudar sua realidade e a de seu país”, disse em entrevista à edição de hoje (19) do Programa Bem Viver. “A poesia foi tida como algo sem utilidade, mas a gente acha que a palavra tem utilidade. Esse povo que nunca teve acesso à cultura e ao lazer se descobriu pela poesia. Nesse trabalho de base, falando de livros, conseguimos dessacralizar a literatura e fizemos isso da mesma forma que nossos ancestrais, pela oralidade.”

Na conversa, Sérgio faz falou sobre o papel da poesia na transformação social, contou sobre sua experiência na educação e debate o que significa pra ele o 20 de novembro. “É uma luta que continua todos os dias. Neste mês ela não será diferente de outubro ou setembro. Com racismo não há democracia”, pontuou. “O Brasil de hoje é o Brasil de sempre para negros e pobres. A pobreza, o desemprego e o racismo não começaram nesse governo, tudo isso o movimento negro, o hiphop e a literatura negra já vinham denunciando.”

Nascido em Ladainha, interior de Minas Gerais, em 1964, o ativista foi criado na periferia da zona sul da cidade de São Paulo e deu início a um movimento que transformou um bar da região em centro cultural, onde acontece o Sarau da Cooperifa, a Cooperativa Cultura da Periferia.

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Ele também é autor do projeto “Poesia contra violência”, que percorre escolas públicas de São Paulo debatendo cultura de paz e resistência política com a juventude. Como escritor, ele tem oito livros publicados, entre eles “Subindo a ladeira mora a noite”, “A margem do vento”, “A poesia dos deuses inferiores” e “Cooperifa antropofagia periférica”.

“Não tem como não lutar. É utopia ou barbárie. Somos utópicos. Queremos acreditar. Quem tem utopia não para e nós lutamos todos os dias”.

Consciência Negra

No Dia da Consciência Negra, celebrado amanhã (20), o momento negro organiza uma das maiores manifestações de rua da história realizada na data. Isso porque ocorre junto aos atos mais uma edição da campanha Fora Bolsonaro, iniciativa que pela sétima vez mobiliza o país para protestar contra o presidente da república.

Nos últimos anos, o movimento negro cresce e se consolida no Brasil como um dos principais canais de mobilização popular, alcançando diferentes frentes.

Racismo ambiental

Já ouviu falar de racismo ambiental? O termo pode até parecer complexo, mas é algo que pode ser observado no cotidiano da sociedade pela forma como povos originários e comunidades afrodescendentes são impactadas por desastres ambientais.

A tese foi cunhada nos anos 1970, quando estudiosos comprovaram que sempre que há um desastre ambiental a população mais impactada é a étino-racial mais vulnerável. O mesmo se aplica a ocupações em espaços próximos a lixões ou que apresentem algum perigo pra saúde humana.

Mesmo com a teoria consolida e difundida, ainda é difícil que autoridades globais atentem para o tema. Na Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 26), por exemplo, o movimento negro e indígena tentou aprofundar a questão, mas foram pouco ouvidos.


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Edição: Sarah Fernandes