Paraná

Contra o fascismo

“Nossa agenda política precisa ser a da solidariedade”, defende José Dirceu

O ex-ministro chefe da Casa Civil participou do programa Quarta Sindical sobre os caminhos para combater o fascismo

Curitiba (PR) |
"O centro da luta contra Bolsonaro é a luta popular, junto às periferias, aos movimentos", afirma José Dirceu
"O centro da luta contra Bolsonaro é a luta popular, junto às periferias, aos movimentos", afirma José Dirceu - Agência Brasil

Eleições de 2022, Operação Lava Jato, as candidaturas de Moro e Dallagnol e sua postura de resiliência nos meses em que esteve preso foram alguns dos assuntos tratados pelo ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, no Programa Quarta Sindical, ma parceria entre o Brasil de Fato Paraná e a CUT Paraná.

A jornalista Ana Carolina Caldas, do BdF-PR, e o presidente da CUT Paraná, Márcio Kieller, fizeram a mediação.

Confira os principais trechos da entrevista:

Quarta Sindical: Nesta semana, completam dois anos da liberdade de Lula.  O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  obteve, até o momento, 19 vitórias judiciais na série de processos e investigações a que respondia desde que se tornou alvo da Operação Lava Jato. Junto a isto, na semana que passou, o promotor do Ministério Público, Deltan Dallagnol, e o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro se colocaram como possíveis candidatos nas eleições de 2022.  Como você analisa este cenário, atualmente?

José Dirceu: Realmente, ontem fez dois anos que Lula, eu e outros companheiros como André Vargas e o Vaccari fomos libertados. Marca também o início do fim do lavajatismo, que foi um instrumento da direita contra governos nacionalistas, democráticos e progressistas. Foi assim contra o Getúlio, contra o Juscelino e a ditadura quando deu o golpe em 1964, a palavra de ordem era “contra a corrupção e a subversão."

E a Lava Jato, articulada desde os Estados Unidos, é uma operação política com o objetivo de criar as condições para o golpe que destituiu a nossa presidente Dilma, assim como o fizeram em outros momentos da nossa história. E, também nos levar ao Estado de exceção, culminando na prisão de Lula e mais companheiros. E, hoje, todos os processos vêm sendo anulados porque houve um conluio criminoso entre um juiz e o Ministério Público de Curitiba e, muitas vezes, a Receita Federal, a Policia Federal, etc.

Agora, sobre as candidaturas de Moro e Dallagnol, não é surpresa, porque ambos já tinham assumido este viés político. A Lava Jato foi um projeto político de instrumentalização da justiça contra um partido político e contra o nosso projeto político de soberania nacional. E o resultado foi a eleição de Bolsonaro e essa tragédia que vivemos, tanto nacional como humanitária. Agora, vamos lutar para expor às vísceras a podridão da Operação Lava Jato e para que se faça justiça, ainda que tardia.

QS: Para você, que esteve à frente das campanhas eleitorais e sempre foi um importante estrategista, o que é necessário e urgente colocar no diálogo com a população para combater o fascismo?

José Dirceu: Este é o momento de criarmos as condições para deter o desmonte do Estado, a retirada dos direitos sociais e lutar em oposição ao governo Bolsonaro e preparar a vitórias nas ruas. Nossa agenda política precisa ser a de solidariedade. Significa que a principal luta que temos que travar agora é a da solidariedade aos que tem fome e aos que ficaram expostos ao desemprego.

O centro da luta contra Bolsonaro é a luta popular, junto às periferias, aos movimentos sociais, fortalecer sindicatos, no campo, na defesa do micro e pequeno empresário, contra essa estrutura tributária que expropria do trabalhador. Absurdo que no Brasil não se cobra impostos dos ricos e sim da classe trabalhadora.

Outra agenda importante é de mudança dos nossos partidos, pois o mundo mudou. Temos que ter uma abertura total para a juventude, mulheres, negros e negras.

QS: Para você, é Fora Bolsonaro agora ou o ideal é construir uma estratégia forte para as eleições de 2022?

José Dirceu: Em síntese, duas táticas e um único objetivo. É, sim, o Fora Bolsonaro e a construção de uma alternativa que o Lula, hoje, lidera para 2022. Ao mesmo tempo, a reorganização dos nossos movimentos para essa luta que é para já.

Temos que estar atentos que uma geração que nasceu entre 95 e 2005, de jovens - que está emergindo na vida política, social e cultural do país -, não vai aceitar este sistema político que aí está e essa barbárie que representa o Bolsonaro. E muito menos o que está acontecendo no parlamento, além do ataque contra a própria democracia.

Acho que conseguimos nos reorganizar, nos recolocamos nas ruas e se isso não foi ainda suficiente para o impeachment, nos deixa preparado para a luta social.

Outro ponto é que vamos enfrentar uma batalha duríssima, pois não será só Bolsonaro nos atacando. Serão as milícias, a violência política, a direita liberal e também a direita "ex-bolsonarista", além de parte da mídia. Teremos uma dura luta bem evidente contra aqueles que querem manter o bolsonarismo sem o Bolsonaro.

QS. Muito se falou sobre sua postura de grande resiliência enquanto esteve preso. Gostaríamos de ouvir um pouco sobre suas memórias a respeito desse momento.

José Dirceu: Eu não fiz mais do que minha obrigação. Eu tenho um compromisso de vida com a luta pelo socialismo e com meus companheiros e companheiras que caíram durante a Ditadura Militar e que foram mortos e torturados justamente porque não delataram. Tenho também um compromisso com o PT, com o Brasil e o nosso povo. E sei que tive a solidariedade da militância que me manteve de pé.

Isso não significa que eu não tivesse sofrido, tivesse pânico, medo e depressão. Pois a prisão é a negação da liberdade e da vida. Atinge também tua família, pois eles perseguiram todos eles.

Eu, na prática, morri em 2005 para a grande mídia brasileira. Foi como se eu não tivesse participado da vida política do Brasil. Mas superamos os piores momentos com a solidariedade de vocês, de muitos companheiros e companheiras de luta, advogados, particularmente da Simone, minha esposa, das minhas filhas, do Zeca e das mães dos meus filhos.

Foi possível superar e transformar a prisão num instrumento de luta e denúncia como fez o Lula e todos os outros companheiros. E também porque a luta sempre nos manteve de pé. Como eu sempre preservei e dei importância para a história do nosso país, eu estava confiante. Eu falava aos companheiros que Moro e os procuradores eram peças do sistema.

Veja na íntegra

Para assistir ao programa na íntegra, clique aqui. O Quarta Sindical vai ao ar toda quarta-feira, às 11h30, com transmissão pela página de Facebook e canal do YouTube do Brasil de Fato Paraná.

Edição: Lia Bianchini