Ceará

Cultura

Trabalhadores da cultura comemoram o retorno aos palcos

O setor que é marcado pela informalidade, sofreu com a paralisação dos eventos e a queda da renda durante a pandemia

Fortaleza, CE |
Show no Sao Luiz
Show Futuro e Memória realizado no ultimo dia 9 no Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, CE - Guilherme Silva

Um dos primeiros a sair de cena e um dos últimos a voltar, o setor cultural sentiu o amargo da paralisação dos eventos culturais por força da pandemia do Coronavírus. Por quase dois anos, milhares de trabalhadores e trabalhadoras da cultura se viram, da noite para o dia, sem suas rendas. Entretanto, com a retomada da realização de eventos e da abertura dos equipamentos culturais, aos poucos o setor volta a se animar no reencontro com o publico. 

No Ceará, a Secretaria do Cultura do Governo do Estado (Secult) demonstrou sensibilidade diante dos desafios enfrentados pelos artistas. Realizou diversos eventos on-line, além de fortalecer a divulgação e participação dos trabalhadores da cultura nos programas de auxílio, como a Lei Aldir Blanc. Entretanto, as iniciativas não foram suficientes para suprir as demandas do segmento.  “O setor artístico e cultural é extremamente marcado de forma muito forte pela informalidade, são pessoas que dependem diretamente de seu trabalho diário pra gerar renda para o mês como também por coletivos informais, micro e pequenas empresas que não teriam condições de se sustentar”, enfatiza a Secretária Executiva da Cultura do Governo do Estado do Ceará, Luísa Cela.

Para muitos foi preciso se readaptar ao novo contexto e procurar formas de continuar levando sua arte ao público e rentabilizar novos caminhos. Como aponta a artista e produtora cultural, Juliana Tavares: “Eu até brinco que eu fui artista dentro da minha sala de casa porque foi o lugar onde eu dei aula, onde eu me apresentei, onde eu produzi evento, produzi até festival”, comenta. A produtora também chama atenção ainda para uma outra classe, aquela que trabalha por trás dos holofotes, que foi fortemente prejudicada.

Enquanto Juliana conseguia, de alguma forma, construir novos caminhos e chegar ao público, o Diretor Técnico Artístico, Douglas Salvador, precisou adentrar a cozinha de casa a procura de um plano alternativo para se manter durante os longos meses que se seguiram longe dos palcos:  “Meu plano B foi fazer um pequeno negócio no ramo da alimentação, trabalhei com esse lance de bolo e foi logo quando estourou, deu um boom no serviço de delivery e aí a logística faz parte aqui da gente, então meio que consegui sobreviver e ainda posso dizer que o bolo ainda é o plano A, apesar de algumas coisas já terem retornado”.

Já Naiara Lopes, Técnica de Palco e Som, engrossa o discurso da classe e fala da falta de valorização desse profissional, que ficou ainda mais latente na pandemia: “Uma das partes mais fracas da cadeia produtiva, cultural e de entretenimento é o profissional técnico, mas ao mesmo tempo, sem um técnico a gente não consegue um bom espetáculo, a gente não consegue um bom show. Então eu espero que realmente agora tenhamos a valorização do profissional técnico e a inclusão também”, pontua. 

O retorno aos palcos

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Depois de quase dois anos fora dos palcos, segunda casa para quem da cultura vive, a expectativa é grande para o reencontro com a plateia. Com eventos culturais liberados, mesmo com capacidade reduzida, estes encontros ganham novos significados. Para muito além do trabalho, estar presente nunca significou tanto, estar vivo. 

Para a sambista, Theresa Rachel, o momento representa a esperança de dias melhores: “a gente sabia que (a volta) seria gradativa, até por segurança, mas eu acho que agora o pessoal já está ganhando um gás a mais, já está acreditando que a gente está saindo dessa e que as coisas estão mudando. Estamos revendo as pessoas, estamos podendo divulgar nosso trabalho também de uma forma presencial, não só por uma rede social, então essa energia envolvente do público é o que dá gás e era o que estava faltando”.

Ansiedade também compartilhada por Juliana: “Trabalhar com arte é trabalhar com gente, é estar perto, conversando, é olho no olho, é você testar ali no palco se apresentando. Não tem coisa melhor do que você olhar pra plateia e ver ali uma pessoa, isso o virtual não consegue proporcionar. Apesar de eu ter tido experiências muito interessantes no virtual, de contato com pessoas de outros Estados, o presencial sempre vai ser importante e sempre vai ser mais interessante, né”, finaliza com o brilhinho nos olhos de toda uma classe que volta a pisar no seu território.

Com olhos fixos já em grandes eventos, a Secult e o setor já começa a se reorganizar. “A gente já tem realmente as medidas de controles e protocolos sendo mais flexibilizadas e o número de publico começa a crescer. Seguimos com as medidas de proteção, então a máscara é obrigatória, o distanciamento ainda é praticado dentro dos nossos equipamentos, é feito também controle de público. Assim, nós já temos uma perspectiva de Réveillon, por exemplo, já temos divulgado alguns shows de maior porte, realizados pela iniciativa privada. Eu espero, eu desejo muito que a vacina controle o processo de pandemia e que possamos retomar com força total”, prospecta a Luísa Cela. 


Platéia no Cineteatro São Luis, em Fortaleza Ceará. Retorno das atividades seguindo protocolos sanitários. / Guilherme Silva

Edição: Camila Garcia