Paraná

Juventude

Coluna | Como fazer uma espada

Nossa forja é uma obra coletiva

Curitiba (PR) |
Coluna da edição 235 do Brasil de Fato Paraná - Foto: Arquivo

Eu amo a expressão “forjado na luta”. Sempre escuto militantes utilizando-a e acho incrível. Eis que, num momento de descanso, pacificamente distraído, dou-me conta de que se trata de uma metáfora bélica, de guerra, sangrenta, meio à la Quentin Tarantino.

Se você quer ter uma espada, é preciso forjá-la numa oficina de ferreiro. Parece ser insano fazer isto enquanto se luta, bater no metal quente até assumir a forma adequada e ainda afiá-la, isto é, fabricar a espada em meio aos ataques e contra-ataques. Claro que ninguém faz isso literalmente. Mas forja-se o que afinal de contas?

O meio tem que ser adequado ao fim e a nossa finalidade maior é a construção do projeto popular. Nós recebemos nossa instrução/formação, o metal bruto, através de um esforço de leitura de Marx, Lênin, Florestan, entre outros. Mas é no contato com o povo, no diálogo freireano com os oprimidos que vamos forjando nossa espada: nós mesmos, a nossa inteligência e capacidade de reflexão e de ação, necessários para pensar os dilemas do povo e os caminhos de solução.

Parafraseando Paulo Freire, quando escreve que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”, eu diria que nós também nos forjamos em comunhão e que isso faz parte do nosso processo de libertação. Isto é, nossa forja, na verdade, é uma obra coletiva. Cada contribuição, até aquela mais singela, é extremamente importante para que o fio da espada consiga cortar as teias que oprimem o povo brasileiro.

De todo meu coração, eu amo ser o metal quente, sempre em processo de construção, de forja permanente junto ao povo, moldado e afiado pelo diálogo. Eu amo ser forjado na luta.

*William Zanoni é advogado e militante do Levante Popular da Juventude 

Edição: Lia Bianchini