Ela voltou

Em ato na av. Paulista, esquerda resgata bandeira do Brasil: "Ela é nossa", diz manifestante

Em busca de ampla aliança com diversos setores da sociedade, esquerdistas tiraram o verde e amarelo do armário

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Principal carro de som da manifestação tinha apenas uma faixa e a bandeira brasileira como adornos - Foto: Igor Carvalho

As irmãs Lilian e Liliane Silva caminhavam para casa, após o ato, vestidas de verde e amarelo e abraçadas em uma bandeira do Brasil. A cena foi comum, na manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em São Paulo, na tarde deste sábado (2).

“Essa bandeira representa a gente, e o PT precisa tomar conta disso. Eles (bolsonaristas) acham que são donos da bandeira, mas não são”, defendeu Liliane, que usava uma máscara do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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No principal carro de som da manifestação, apenas uma faixa que pedia o impeachment de Bolsonaro e uma enorme bandeira brasileira. Em outro ponto, militantes da União Municipal dos Estudantes de São Paulo (Umes) levaram bandeiras brasileiras nas mãos e no carro de som.

Para a deputada federal Gleisi Hoffman, presidenta do PT, a ampliação do verde e amarelo entre os esquerdistas carrega divergência com a forma como a direita brasileira usa esses atributos nacionais.

“A esquerda sempre valorizou os símbolos do Brasil, entre eles, a bandeira. O que a esquerda não vai fazer nunca é dizer que o Brasil é um partido político, como Bolsonaro fez. Nós sempre vamos ter a bandeira do Brasil como nossa”, diz Hoffman.

Ciro Gomes, do PDT, discursou com uma bandeira na mão. Ele falou ao Brasil de Fato sobre o resgate do símbolo. “É um gesto humilde que devemos ao povo brasileiro. Precisamos produzir centros de convergência, e é fato que o Bolsonaro é inimigo da democracia e atenta contra a vida do povo, precisamos impedir o Bolsonaro (de vencer a eleição em 2022). Para isso, precisamos fazer um consenso muito mais largo que o mundo da esquerda.”

Porta-Voz nacional da Rede Sustentabilidade, Heloísa Helena questiona o nacionalismo dos bolsonaristas: “Um país só é uma pátria se ela for soberana, justa e igualitária, independente do nome que a governa. Eu sempre lutei por uma pátria livre do jugo de toda forma de opressão, a ela dou o nome de uma pátria socialista e internacionalista. Trazer a bandeira do Brasil é uma forma de protestar contra os vendilhões da pátria, contra esse governo que se elegeu como patriota, enganando a população. É um soldado covarde, frio e calculista.”

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É o mesmo argumento do deputado federal Orlando Silva (PcdoB-SP), que também celebrou o resgate da bandeira brasileira na manifestação: 

“Esse é o nosso principal desafio. Fizemos grandes manifestações construídas por lideranças de esquerda e movimentos populares. Hoje, no Brasil, nossa luta é para que todos estejam contra Bolsonaro. Eu não tenho a menor dúvida, o Brasil é nosso, é do povo trabalhador, não é do Bolsonaro. Bolsonaro é um nacionalista fajuto, de mentira. Ele não ama o Brasil, ele usa apenas como retórica. Temos que resgatar nossa bandeira, esse símbolo nos pertence.”

Com ressalvas, Gilmar Mauro, da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), defende o resgate da bandeira. Para o dirigente do movimento, a incorporação do verde e amarelo permite uma adesão maior à frente contra o presidente Bolsonaro.

“Cada um coloca mais tinta ou menos tinta, mas precisamos de unidade contra o Bolsonaro. A esquerda não tem que vir descaracterizada, tem que vir de vermelho. Mas tem que trazer a bandeira do Brasil, ela pertence ao povo brasileiro. Gostemos ou não da constituição histórica da bandeira, e nós temos diversas avaliações, ela é parte do povo brasileiro, e trazê-la aos atos é importante. Além disso, traz outros setores da sociedade”, afirma.

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Edição: Vinícius Segalla