Paraná

Coluna

O silêncio do prefeito

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Mas, afinal quem se importa? Mateus não morava no Batel, bairro nobre da cidade - Giorgia Prates
Autoridades da nossa cidade ficam mudas quando o Estado mata um jovem trabalhador

Quanto vale uma vida? Muito provavelmente, a resposta da maioria das pessoas para esta pergunta deve ser de que nenhuma vida tem preço. Mas por qual motivo algumas autoridades da nossa cidade ficam mudas, completamente caladas, quando o Estado mata um jovem trabalhador, morador da periferia, de apenas 22 anos, pai de um bebê de nove meses?

Já se passaram mais de 10 dias desde que Mateus Silva Noga foi assassinado por tiros da Guarda Municipal de Curitiba (GM), enquanto comemorava com amigos a conquista da sua carteira de motorista. Até agora, o prefeito Rafael Greca (DEM) não teceu uma única palavra de solidariedade à família de Mateus pelo desastre provocado por sua polícia municipal.

Mateus foi alvejado pelas costas. Os tiros de calibre 12 perfuraram o coração, rins, fígado, baço, intestino e os pulmões dele. A GM ainda registrou no boletim de ocorrência que o jovem seria o autor de “injusta agressão” contra o aparato policial, o que é uma grande mentira. Outras duas pessoas, uma mulher de 31 anos e uma adolescente de 14 anos também ficaram feridas.

Mas, afinal quem se importa? Mateus não morava no Batel, bairro nobre da cidade. Ele estava no Largo da Ordem, local turístico, democrático e ponto de encontro das populações periféricas, LGBTQIA+, da juventude negra. Ele não era filho de um descendente europeu, etnia cotidianamente exaltada e privilegiada pelo prefeito em suas ações de governo, mais do que as origens e raízes do povo brasileiro.

O caso do Largo da Ordem não é fato isolado e o silêncio do prefeito, maior autoridade da cidade e chefe da Guarda Municipal, só confirma que essa política higienista contra as populações historicamente oprimidas determina um preço para nossas vidas. Mas se combinaram de nos matar, precisamos lembrar ao sistema de que nós combinamos de resistir e transformar.

 

 

Edição: Pedro Carrano