Paraná

Educação

Famílias relatam pressão para o retorno dos filhos a aulas presenciais

Decretos do próprio governo do Paraná garantem direito de estudantes optarem por ensino online

Curitiba (PR) |
A APP-Sindicato recebeu também depoimentos de pais e mães sobre a Secretaria dificultar o acesso às aulas online  - Foto: Divulgação

Após os afastamentos de diretores de escolas públicas no Paraná por não atingirem uma suposta meta estabelecida pela Secretaria de Estado de Educação (Seed) de estudantes nas aulas presenciais, apareceram também denúncias de pais e mães que dizem estarem sendo pressionados a levarem seus filhos. Porém, as famílias se apoiam nos decretos do próprio governo do estado, que lhes garante o direito de optar pelo ensino online devido a pandemia, que não acabou.

“Todos sabemos que ainda não tem vacinas para as crianças, e muitas delas estão sendo hospitalizadas por causa do vírus. Agora, a escola avisou que a secretaria disse que é obrigatório as crianças irem para a escola. Mas você tem que assinar um termo de responsabilidade caso aconteça algo com seu filho. Sou obrigada a mandar porque eles dizem que vão mandar o Conselho Tutelar bater na minha porta”, relata Edna Elaine Bacilli, mãe de um menino de 8 anos que cursa uma escola estadual.

Edna ainda conta que outros pais da região onde mora, no bairro CIC, também vêm sendo pressionados. “Faltando menos de três meses para acabar as aulas, agora essa pressão de que a gente leve mesmo sem vacina, muitos professores também não foram vacinados e parece que a pandemia já acabou. Muitos pais daqui foram pegos de surpresa com essa ordem das escolas de mandar as crianças”, afirma.

Oficialmente, não há, por parte do governo do estado, nenhuma normativa ou decreto que obrigue o retorno às aulas presenciais.

Dificuldades online

A APP-Sindicato, que representa professores e funcionários de escolas, recebeu também depoimentos de pais e mães sobre a Secretaria dificultar o acesso às aulas online a estudantes que estão assistindo em casa. “Me senti fazendo papel de palhaça, porque eu fui à escola, assinei, expliquei, escrevi com minha própria mão que não mandaria meu filho porque não estão seguindo o distanciamento e ele não está vacinado. Mesmo assim, pararam de mandar o link e eu fiquei sem ter o que fazer”, conta, em relato feito ao sindicato, uma mãe que preferiu não se identificar e cujo filho estuda no Colégio Estadual Cívico-Militar Unidade Polo, de Campo Mourão.

A insegurança aumentou quando a mãe visitou a escola. “Quando passam as reportagens, está uma carteira, um espaço e outra carteira. Na sala que eu visitei, está uma carteira atrás da outra e 25, 26 alunos. A sala estava lotada. Eu até cheguei a conversar com a professora e ela disse: ‘essa é a nossa realidade’”, relata.

A professora Walkiria Olegário Mazetto, diretora da APP-Sindicato, diz que a Secretaria de Educação descumpre a própria legislação. “Tanto a Sesa [Secretaria de Estado da Saúde] como a Seed têm leis que garantem a escolha destes pais e mães sobre a opção que desejam assistir às aulas. Mas, mesmo assim, a secretaria vem pressionando. O sindicato está em diálogo e apoio constante com famílias e estudantes, dando suporte para que eles tenham seus direitos garantidos”, explica.

O que diz a Secretaria

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação afirmou: “As escolas estão em contato com pais e responsáveis pelos estudantes para que os mesmos justifiquem o não retorno (Ofício Circular 051/2021). O intuito é que as escolas da rede pública de ensino recebam, com segurança, um maior número de estudantes, motivando-os pela permanência, uma vez que o ensino remoto contribui para com a aprendizagem, mas não substitui as atividades pedagógicas ofertadas de modo presencial. Motivos não relacionados a questões de saúde ou problemas no transporte escolar serão encaminhados para acompanhamento da Rede de Proteção local, a fim de que esta auxilie as famílias a superarem as situações que dificultam o retorno.”

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini