Paraná

PROJETO PRIVATISTA

Artigo | Privatização dos Correios - uma série

Tais absurdos geraram a inédita situação de três senadores recusarem a relatoria do Projeto de Lei

Curitiba (PR) |
A privatização dos Correios, se comparada a uma peça televisiva, seria uma série, com diferentes temporadas - Giorgia Prates

Há muitos anos o povo brasileiro vem adaptando seus gostos por entretenimento aos novos formatos mais dinâmicos e atrativos, e um grande exemplo é a migração de sua preferência das novelas para as séries, onde a cada temporada uma nova trama surge envolvendo os mesmos personagens, ao contrário do antigo modelo em que uma história se desenrolava por meses a fio, deixando a gratificação final para uma dramática última semana.

Ao que parece, este modelo de dramas intermediários que se encerram parcialmente para dar lugar a sequências e incorporação de novos personagens está sendo adotado na política na economia e até mesmo na tramitação do Projeto de Lei (PL) 591/2021, que trata da privatização dos Correios.

Aqueles que acompanham essa trama de intrigas, manobras, interesses escusos, personagens sombrios, percebem que ela vem se desenrolando em temporadas, ao estilo das séries de TV que tanto estão encantando o povo brasileiro.

A primeira temporada abalou a sociedade, trabalhadores, políticos e empresários ao encerrar com uma vitória daqueles que podem ser classificados como “vilões” – afinal, nenhuma trama pode prescindir desses personagens.

Nos capítulo final, o mal traçado projeto de privatização foi aprovado na Câmara dos Deputados, com nuances dramáticas desde a mudanças no regimento interno para acelerar sua tramitação, uso de dinheiro público para propaganda com informações falsas.

A horda de vilões destacou-se pela diversidade contando além óbvios já conhecidos como o governo, grupos econômicos, financistas e políticos interessados, mas também com agentes públicos atuando na defesa de interesses privados, agindo contrariamente aos interesses dos seus pares para caírem nas graças das “forças do mal”.

Não poderiam faltas é claro as vítimas, não somente os milhares de trabalhadores dos Correios e seus familiares, inclusive dependentes portadores de necessidades especiais que perderam condições de prosseguirem com seus tratamentos, mas também as populações de milhares de municípios brasileiros que não contarão com serviços postais a preços acessíveis.

Ao final dessa temporada, prevaleceu a sensação de desânimo, de injustiça e esgotamento, entretanto, sem fugir da consagrada fórmula, a história tão cheia de pontas soltas chamou atenção para uma segunda temporada, que logo nos capítulos iniciais em um novo cenário (o Senado) trouxe uma série de reviravoltas e novas esperanças para aquelas vítimas tão sofridas e sem esperança.

Após uma caçada desesperada por alguém que assuma o desgaste de relatar o projeto, o senador Márcio Bittar (MDB) do Estado do Acre, um dos mais carentes de serviços de integração como os dos Correios foi o escolhido, resta saber como ele conduzirá este tema espinhoso para o povo já sofrido do seu estado.

Logo nos primeiros capítulos da segunda temporada, em um novo cenário, as maldades, injustiças, crimes e ilegalidades, chamaram atenção dos novos personagens, e muitos surpreenderam ao se manifestarem contra os absurdos da temporada anterior, outros reafirmaram sua histórica posição em defesa das vítimas fragilizadas – trabalhadores e população.

Tais absurdos geraram a inédita situação de em um período de menos de dez dias três senadores recusarem a relatoria do PL 591/2021, um cenário vergonhoso para um governo que a cada dia dá mostras da sua incompetência política e administrativa, e de sua total desconexão com a realidade de um país cansado do seu descaso criminoso com as políticas públicas.

Um fenômeno interessante nessa “série” é que em um grau inédito seus espectadores vêm tomando parte da trama, juntando sua força às vítimas do enredo sinistro da primeira temporada (trabalhadores e população) influenciando seu rumo, construindo um roteiro onde, como se é esperado em qualquer boa história, o bem comum prevaleça sobre a maldade e vilania.

Um exemplo é a atuação firme de Centrais Sindicais, Federações, Sindicatos, associações, partidos políticos, movimentos sociais, deputados, vereadores, e até mesmo empresários, cujas ações vêm conquistando cada vez mais apoio entre senadores de vários partidos.

Em que pese a complexidade do enredo, as tramas paralelas, os dramas pessoais, milhares de trabalhadores e milhões de brasileiros, que já não são meros expectadores, esperam ser esta segunda temporada a “temporada final”, onde as injustiças sejam finalmente corrigidas, as mentiras reveladas e quem sabe possamos ter – impossível não recorrer ao clichê – um “felizes para sempre”.

Edição: Pedro Carrano