Paraná

Justiça por Lindolfo

Quatro meses de impunidade marcam assassinato de jovem camponês LGBT

Caso encontra-se ainda em fase processual inicial

Curitiba (PR) |
Lindolfo Kosmaski foi assassinado em 1º de maio, com indícios de homofobia - Foto: Joka Madruga

Educador, jovem, camponês, gay. Lindolfo Kosmaski, morto no dia 1º de maio deste ano, teve seu corpo carbonizado. O crime, com indícios de homofobia, segue impune após quatro meses do ocorrido na cidade de São João do Triunfo, no estado do Paraná, onde residia.

A acusação já realizou a denúncia e foi apresentada a defesa preliminar, mas tem várias questões em aberto. Micheli Toporowicz, advogada e assistente de acusação do caso, explica que o inquérito policial teve início no dia 01 de maio, dia em que foi encontrado o corpo. Durante o inquérito, houve a prisão de três suspeitos, que foram as últimas pessoas que tiveram contato com Lindolfo. Dessas prisões, somente uma foi mantida. Micheli conta que “o crime foi muito bem premeditado e bem executado para esconder todos os vestígios de autoria”.

Hoje, o caso encontra-se ainda em fase processual inicial: houve a conclusão do inquérito pela autoridade policial, foi encaminhado ao Ministério Público, que ofereceu denúncia no último dia 11, e que foi recebida pelo Magistrado no dia seguinte. Ou seja, teve início a fase processual, mas ainda sem solução.

“Os próximos passos da assistência de acusação serão para que o mais breve possível esses acusados estejam sendo levados ao Tribunal do Júri, momento em que espera-se que a justiça seja aplicada de acordo com a gravidade e crueldade do cometimento deste homicídio”, pontua a advogada.

O assassinato do Lindolfo não é um caso isolado. Segundo Levantamento do grupo Acontece Arte e Política LGBTI+ e Grupo Gay da Bahia, divulgado no dia 14 de maio, em 2020 houve o registro de 237 mortes violentas de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Foram 224 homicídios (94,5%) e 13 suicídios (5,5%). Houve também o aumento de travestis assassinadas: ao todo 161 travestis e mulheres transsexuais (70%), 51 gays (22%), 10 lésbicas (5%), 3 homens transsexuais (1%), 3 bissexuais (1%) e 2 homens heterossexuais confundidos com gays (0,4%).

Lindolfo, presente!

Lindolfo tinha 25 anos, era estudante egresso da turma de Licenciatura em Educação do Campo da Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA), localizada no assentamento Contestado, no município da Lapa (PR). Participou de diversas atividades de formação do MST, como cursos e encontros do Coletivo LGBT Sem Terra e Jornadas de Agroecologia.

Além disso, o jovem atuava como professor na rede estadual de ensino no Paraná, e na última eleição municipal concorreu a vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no município de São José do Triunfo. No período do assassinato, estava dando sequência aos estudos no mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e em Matemática na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Repercussão

A morte de Lindolfo obteve repercussão nacional e internacional. Artistas e figuras públicas, como a cantora e compositora Daniela Mercury, os deputados federais Talíria Petrone (PSOL), David Miranda (PSOL), Valmir Assunção (PT), João Daniel (PT), José Guimarães (PT) e muitos outros se manifestaram em repúdio ao ocorrido.

Vários movimentos e organizações populares no Brasil também denunciaram o assassinato de Lindolfo. Através da hashtag #JustiçaPorLindolfo diversas declarações de solidariedade à família e amigos foram publicadas nas redes sociais. No dia 19 de maio, houve também uma denúncia pública apresentada à Comissão de Direitos Humanos e Minoria da Câmara dos Deputados.

Internacionalmente, o caso foi denunciado durante Audiência na Câmara Municipal de Paris, na França, no dia 18 de maio, e cartazes ocuparam as ruas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, no dia 27 de junho, durante a Marcha de Libertação LGBTQIA+. O caso repercutiu também em veículos internacionais de comunicação. 

Edição: Lia Bianchini