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Coluna

O futebol e sua estrutura salarial desigual

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Quase 90% dos atletas profissionais do futebol no Brasil são trabalhadores sub-remunerados, com condições laborais precárias. - Foto: Leonardo Moreira / Fortaleza EC
Cerca de 88 mil jogadores profissionais do país, 55% recebem aproximadamente um salário mínimo.

Quando falamos em futebol, sempre pensamos nos mega salários dos jogadores de grandes clubes nacionais e estrangeiros. As extravagâncias e exibicionismos de personagens como Neymar acabam construindo uma imagem ilusória sobre a realidade da esmagadora maioria dos profissionais que vivem da bola.

Os dados de uma pesquisa sobre as faixas salariais dos jogadores de futebol no Brasil, realizada pela plataforma Cupom Válido, tiveram uma grande repercussão na mídia esportiva e nos instiga a refletirmos em torno da estrutura desigual do nosso esporte mais popular.

Segundo esse levantamento, dos cerca de 88 mil jogadores profissionais do país, 55% recebem aproximadamente um salário mínimo mensal, 33% recebem entre R$1.001 e R$5.000 e 5% recebem salários entre R$5.001 e 10.000. Os valores mais elevados são: 4% - De R$ 10.001 e R$ 50.000; 1% - De R$ 50.001 a R$ 100.000; 1% - De R$ 100.001 a R$ 200.000; 1% - De R$ 200.001 a R$ 500.000; 0,1% - Acima de R$ 500 mil

No Ceará, o jogador mais bem pago é do Vovô, que recebe aproximadamente R$ 350.000 por mês, valor igual a todo o gasto mensal de outro grande clube do estado, o Ferroviário, incluindo elenco, funcionários e comissão técnica.

Essa realidade paralela de salários milionários e vidas luxosas é bastante útil para a ideologia neoliberal que procura construir narrativas pautadas na meritocracia e em mistificações sobre talentos e dons individuais.

Quase 90% dos atletas profissionais do futebol no Brasil são trabalhadores sub-remunerados, com condições laborais precárias e submetidos a todo tipo de manipulação de cartolas e empresários. Sem mencionar os mais de 270 mil jogadores amadores e os milhares de garotos nas categorias de base dos times país afora, nos quais apenas 1% chegam a se profissionalizar.

O reconhecimento dessas condições de exploração e a tomada de consciência coletiva acerca dessa situação, mesmo longe de acontecer, precisa ser considerada não só pelos próprios atletas e suas entidades representativas, mas por todos os interessados pelo presente e pelo futuro do futebol nacional. Se isso não ocorrer, num país cada vez mais desigual e dependente, o projeto de elitização do futebol em curso, impulsionado pela CBF e pelo empresariado brasileiro, será definitivamente vitorioso. Proletários e amantes dos futebol, uni-vos!

Edição: Francisco Barbosa