Paraná

Atletismo

Aída dos Santos, a atleta sem uniforme

História do uniforme que nunca existiu mostra uma atleta improvável e única

Curitiba (PR) |
Giorgia Prates conta, em comercial, história de Aída dos Santos, que disputou prova sem ter um uniforme, em Olimpíadas de 1964 - Foto: Giorgia Prates

Aída dos Santos é uma atleta improvável. Pobre, nascida nos morros cariocas, com pai operário e mãe lavadeira, estudava no primário com fome e trabalhava como doméstica. Começou no atletismo ao ouvir uma vizinha falar sobre o esporte, mas confessa que no início tinha preguiça até de pensar em disputar. Tornou-se atleta e foi às Olimpíadas de Tóquio, em 1964, como a única mulher da delegação. Sem empresário, sem patrocínio, sem uniforme... E mesmo assim ficou em quarto lugar no salto em altura, o melhor resultado individual de uma atleta brasileira por trinta anos.

É justamente a história de disputar a prova sem ter um uniforme, tendo de improvisar roupas, que é contada em comercial das lojas Centauro dirigido por outra negra, que batalhou muito para alcançar seu lugar entre as mais importantes fotojornalistas a retratar movimentos populares e histórias como de Aída: Giorgia Prates. 

Giorgia, fotojornalista do Brasil de Fato Paraná, foi contratada como diretora de cena do comercial e fala da admiração pela atleta. “Dona Aída dos Santos é uma entidade... Esse é um dos trabalhos mais inesquecíveis que já fiz. Ele fala sobre representatividade, sobre ancestralidade, sobre a força e o brilho de uma mulher negra. Esta mulher é Aída dos Santos. Fala sobre tantas coisas que tentaram nos tirar, silenciar, apagar... Mas também fala de união, de reconhecimento, de acolhimento e gratidão", diz Giorgia.

No comercial, a marca contrata a estilista e moda-ativista Carol Barreto, também mulher negra, para fazer um uniforme sob medida e entregar para a atleta, hoje com 84 anos. O resultado é emocionante. Dona Aída conta no filme: “Escutei várias vezes, vindo da arquibancada, 'sai daí, criola, seu lugar é na cozinha'. Aí, quando terminou, peguei o microfone e falei: 'meu lugar é na cozinha sim, é na sala, no quarto e também numa quadra de esporte...” Está dado o recado a outras atletas improváveis.

Edição: Lia Bianchini