As dificuldades de acesso à informação e tecnologia de qualidade nas comunidades rurais e periferias das cidades foi o tema do debate da audiência pública “a Falta de Acesso à Internet", promovida na manhã desta terça-feira (22) pelo deputado Professor Lemos (PT), na Assembleia Legislativa do Paraná. O evento remoto reuniu representantes da comunidade escolar rural, de cooperativas da agricultura familiar e de movimentos populares que relataram os desafios para a educação em localidades remotas e a comercialização da produção agropecuária.
“Precisamos que a internet chegue com velocidade no meio rural, nos pequenos municípios e distritos rurais que vivem da agricultura. Internet não é luxo, é necessidade do nosso tempo, um direito que precisa ser assegurado à nossa população”, explicou Professor Lemos. De acordo com o parlamentar, os relatos subsidiarão iniciativas para a criação de políticas permanentes.
Para o professor Valter de Jesus Leite, membro do setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o acesso à internet precisa ser concebido como questão de cidadania, um bem cultural que precisa estar acessível, democratizado e universalizado. “No campo há precariedade ao acesso às tecnologias da comunicação e sua infraestrutura. A gravidade é aliada à insuficiência de equipamentos, como celulares, tablets, computadores e rede de internet”, explicou.
Valter apontou que as dificuldades vêm sendo ignoradas e negligenciadas pelo poder público. “Temos 2.200 escolas, tanto municipais quanto estaduais. Cerca de 35% dessas escolas não possuem internet ou têm acesso à internet de baixa qualidade. 90% dos estudantes do campo realizam suas atividades durante a pandemia de forma impressa, pela falta de acesso à internet, falta de celulares, computadores ou tablets. As famílias têm apenas um aparelho para ser dividido entre três estudantes e outros membros da família”, relatou.
A mesma situação foi apresentada pela estudante Clara Isabele Bernabe, do acampamento Herdeiros da Luta, de Porecatu. “Tudo em nossa escola é impresso porque nossa internet cai durante as atividades. Precisamos enviar perguntas escritas à escola porque não conseguimos acesso no acampamento. A internet é uma necessidade e direito nosso, vamos precisar dela mesmo depois da pandemia, para sempre. Quero pesquisar sobre músicas, estudo violão, quero ler livros e ver filmes”, cobrou.
Agricultores presentes na audiência também apontaram a necessidade de internet de qualidade para comercialização de seus produtos.
Exclusão tecnológica
Para Marcos Mazoni, ex-presidente da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar) e ex-diretor-presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), as dificuldades de acesso à internet vêm antes mesmo do surgimento dela, desde as privatizações do setor de telecomunicações, que criou "um mundo de exclusão tecnológica". De acordo com Mazoni, reflexo das desigualdades se apresentam nos lares paranaenses.
“As famílias das classes A e B têm computadores de mesa e aparelhos celulares. O teletrabalho dessas pessoas é possível e foi muito utilizado durante a pandemia, com muitas mudanças nas relações trabalhistas. As classes C e D não acompanharam esta evolução e foram jogadas à margem, ou perdendo seus empregos ou continuando o trabalho presencial, apinhado-se em fábricas e no transporte coletivo”, pontuou.
Para o promotor Rafael Moura, do Ministério Público do Estado do Paraná (MP/PR), o tema, que ganhou mais relevância no contexto da pandemia, precisa ser debatido à exaustão. “Temos direito de acesso à internet reconhecido pela Constituição. A internet é essencial ao exercício da cidadania. Se a pessoa não tem direito nem ao acesso, não terá direito a este benefício. O direito de garantia à conexão é humano, do qual dependem direitos fundamentais, como o trabalho, a educação e a informação”, salientou.
Edição: Lia Bianchini