Paraná

DEMANDA URGENTE

Acesso à internet: um serviço ausente em áreas de ocupação

“As classes C e D não acompanharam esta evolução e foram jogadas à margem”, afirma especialista

Curitiba (PR) |
O pacote é insuficiente para o estudo dos filhos, confirma uma das famílias entrevistadas. As atividades escolares limitam-se, então, à busca de tarefas na escola. - Giorgia Prates

O Brasil é um país com boa parte da população conectada à internet. Ao todo, são 120 milhões de pessoas, atrás somente dos EUA (242 mi), da Índia (333 mi) e da China (705 mi), com populações maiores que a brasileira, segundo dados de 2018. Mas, para áreas periféricas, rurais e ocupações urbanas, o acesso a esse serviço é inexistente ou inconstante, o que prejudica aspectos do trabalho e do acesso à educação e cultura, o que se agrava com a crise econômica e sanitária. 

No caso de áreas de ocupação recentes, por exemplo, da Nova Guaporé, em Curitiba, moradores usam a internet apenas no celular, carregando semanalmente um pequeno pacote de dados. Um serviço de internet gratuito disponível nas periferias ajudaria a quem neste momento sofre com desemprego e que poderia anunciar seus produtos a partir de casa, contribuindo também com o distanciamento social necessário. Ou para que filhos pudessem fazer aulas remotas. 

Em 2018, de acordo com estudo de Deborah Silva e Maria Tereza Kerbauy, a internet chegava a 79,1% do total de residências. Avanço de cerca de 5 pontos percentuais em relação ao ano anterior, quando estava em 74,9% dos domicílios. Mas somente 43% dos domicílios tinham computadores para acessar a rede. 

De seis famílias da Nova Guaporé que conversaram com a reportagem, todas têm apenas celular, com o qual têm gasto mensal médio de R$ 60. Com isso, as atividades tantas vezes se resumem a mensagens via WhatsApp. O pacote é insuficiente para o estudo dos filhos, confirma uma das famílias entrevistadas. As atividades escolares limitam-se, então, à busca de tarefas na escola. 

A internet hoje, ao lado disso, neste momento de pandemia, é um insumo essencial para o trabalho. O morador da ocupação, Alex Vianna, tem quatro filhos e uma companheira, com quem se divide no trabalho de coletor de materiais recicláveis. Ele também mantém um plano mensal de celular por conta dos trabalhos periódicos de entrega via aplicativo. Já Valeria Rodrigues da Silva e outras mulheres estão inaugurando o Atelier de Costura da Guaporé e gostariam de contar com uma rede gratuita para poder vender os produtos feitos. “Seria importante o acesso à internet para acessar lives, vídeos e conteúdos no YouTube”, afirma também morador da área. 

Assembleia debate o tema

No dia 22 de junho, o mandato do deputado estadual Professor Lemos (PT) organizou audiência pública sobre o tema da internet, a princípio refletindo sobre a ausência em comunidades no meio rural. “A educação do jovem do campo já enfrentava problemas, e com a pandemia tem mais esse problema, que é a internet”, exemplifica Luana Brambilla Kappaun, assessora do mandato, citando Marcos Mazoni, ex-presidente da Companhia de Tecnologia da Informação e Comunicação do Paraná (Celepar), para quem a acessibilidade é possível se houver políticas públicas. O mesmo Mazoni expressou na audiência: “As classes C e D não acompanharam essa evolução e foram jogadas à margem, ou perdendo seus empregos ou continuando o trabalho presencial, apinhado-se em fábricas e no transporte coletivo”, pontuou. 

A audiência pública estendeu a reflexão sobre o problema da falta de acesso à internet e suas implicações em todas as esferas hoje da vida. “Um dos objetivos da audiência também foi criar o debate sobre um plano de internet para todos, onde esse fornecimento e acesso seja tratado como um plano mesmo, como um tema de interesse de todos e do Estado, tendo em vista a importância da internet para as relações humanas”, afirma Luana. 

*com dados da dissertação "Fake News das Eleições de 2018: entre a cultura “isolada” e a influência eleitoral", de Frédi Vasconcelos.

Edição: Frédi Vasconcelos