Paraná

Solidariedade

“A unidade vence a fome”, diz secretário da CNBB durante ação solidária em Curitiba

Padre Valdecir Badzinski participou de ação com doação de 500 cestas de alimentos e 100 cargas de gás no Alto Boqueirão

Curitiba (PR) |
Ação faz parte da União Solidária, articulação composta por cerca de dez entidades, movimentos populares, coletivos e sindicatos de trabalhadores - Foto: Wellington Lenon

Arroz, feijão, café, açúcar, farinha, mandioca, frutas, legumes e verduras orgânicas frescas estavam entre os itens das 500 cestas de alimentos doadas nas vilas Pantanal e Chacrinha, no Alto Boqueirão, em Curitiba, no sábado (12). Junto às cestas, 100 cargas de gás também foram partilhadas, e um mutirão de plantio marcou a inauguração da horta comunitária da Chacrinha.

A ação faz parte da União Solidária, articulação composta por cerca de dez entidades, movimentos populares, coletivos e sindicatos de trabalhadores. A ajuda humanitária tem sido realizada desde junho de 2020, com o objetivo de amenizar a crise social que se aprofundou com a pandemia da Covid-19.


A ajuda humanitária tem sido realizada desde junho de 2020 / Nelson Orlando de Andrade

Padre Valdecir Badzinski, secretário executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) no Paraná, participou da benção da horta comunitária da vila Chacrinha, no final da manhã. O religioso enfatizou a urgência do enfrentamento à insegurança alimentar. “Vamos sanar essa fome. A unidade vence a fome. A solidariedade vence a fome, nós não podemos perder para ela”, disse.

Badzinski afirmou o compromisso de buscar apoio às hortas comunitárias e à agricultura familiar, como forma de enfrentar os altos índices de insegurança alimentar no Brasil. Pelo menos 19 milhões de brasileiros passam fome e 116,8 milhões enfrentam algum grau de insegurança alimentar, segundo pesquisa Rede Penssan, divulgada no início de abril. 


"A solidariedade vence a fome", afirmou o padre / Ednubia Ghisi

O Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo também participou da ação na sexta-feira (11), durante a montagem das cestas, quando abençoou os alimentos. “Se eu estou com fome, meu problema é material. Mas se o meu irmão está com fome, meu problema é espiritual. Enquanto eu ignorava a dor do outro, meu problema não foi resolvido e a dor não é apenas de um estômago vazio, mas de uma vida sem sentido”, enfatizou o líder religioso.

A ação de sábado foi realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Paraná (MST); o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC); Comissão da Dimensão Social da Arquidiocese de Curitiba; Centro Comunitário padre Miguel (Cocopam); Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR); Produtos da Terra; Coletivo Marmitas da Terra; APP-Sindicato Estadual, e Núcleo Curitiba Sul; e Partido dos Trabalhadores do Paraná (PT-PR).


Ação foi articulada por cerca de dez entidades / Nelson Orlando de Andrade

Trabalhadores ajudando trabalhadores

“A ação do MST, com as outras organizações, traz alívio financeiro, porque a maioria trabalha com reciclagem. Esse trabalho está diminuindo com a pandemia. É um alívio saciar a fome dessas pessoas nesse momento”, relatou Leonice Piske, que trabalha há 19 anos na comunidade com o projeto "Resgate Vila Pantanal".

A maioria das famílias das duas comunidades enfrenta dificuldade para garantir comida na mesa. Somado a isso, parte das moradias ainda sofre com a falta de energia elétrica. A Unidade de Saúde local também está desativada há meses, o que dificulta o acesso a atendimento neste período de crise sanitária.


Famílias do bairro enfrentam dificuldade de conseguir comida, falta de energia elétrica e dificuldade de acesso à saúde / Nelson Orlando de Andrade

Andressa da Cruz é liderança da comunidade Chacrinha e falou sobre a importância da ação. “Nessa fase que a gente está vivendo hoje, nesta pandemia, ter pessoas que estão dispostas a ajudar, e a formar essa horta que está ficando pronta, é maravilhosa. Eu só tenho a agradecer a Deus e a vocês. É uma felicidade muito grande estar conseguindo esse projeto da horta”. A comunidade existe há cerca de 60 anos, e atualmente é formada por 60 famílias que lutam pelo direito de permanecer na área.

Cerca de três mil quilos de alimentos agroecológicos foram doados pelo povo Sem Terra na ação. Mandioca, batata-doce, cenoura, brócolis, chuchu, limão e verduras em geral fazem parte da diversidade de itens colhidos diretos das hortas e lavouras das comunidades. As comunidades participantes da atividade são os acampamentos Padre Roque Zimmermann e Maria Rosa do Contestado, de Castro, e os assentamentos Contestado, da Lapa, e São Joaquim, de Teixeira Soares. A reforma agrária também estará presente nos alimentos não-perecíveis adquiridos pelas entidades integrantes da União Solidária.

As cargas de gás de cozinha vêm de doações dos trabalhadores da Petrobrás, que defendem a redução dos preços deste item essencial à sociedade, com o fim da política de valores atrelada ao dólar e à variação do barril do petróleo no mercado internacional, chamada de PPI (Preço de Paridade de Importação). O país possui reservas de petróleo e refinarias, o que possibilita a prática de preços baseada na produção nacional. 


Mutirão criou horta comunitária no local da ação / Nelson Orlando de Andrade

Produção de alimentos na própria comunidade

Em uma área de aproximadamente 1.700 metros quadrados, que até poucos dias abrigava entulhos e restos de construção, agora está formada a horta comunitária da vila Chacrinha. O terreno foi cedido por um morador e foi sendo preparado ao longo dos últimos 10 dias.

Os canteiros receberam 150 mudas de árvores nativas e frutíferas e 35 caixas de mudas de verduras e legumes, como brócolis, repolho, couve, cebola, escarola, beterraba, cebolinha e salsinha. Moradores da comunidade e militantes das organizações da União Solidária realizaram o plantio em mutirão, ao longo do sábado. 


Horta deve complementar alimentação das famílias da comunidade / Wellington Lenon

O preparo e o plantios tiveram orientação técnica de integrantes da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), e máquinas da Cooperativa Terra Livre, ambas localizadas no assentamento Contestado, da Lapa. O objetivo é que a horta complemente a alimentação das famílias da comunidade.

Edição: Lia Bianchini