covid anda de ônibus

Estudo que minimiza transmissão da covid em ônibus gera polêmica em Curitiba

Enquanto prefeitura nega que transporte aumente casos, taxa de mortes de motoristas na capital é o dobro da nacional

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
"Eu não me sinto seguro", diz trabalhador que se desloca de Curitiba para Araucária de ônibus - Foto: Giorgia Prates

"Curitiba não possui aglomerações nos ônibus, apenas em casos pontuais, e não tem provocado um aumento das infecções por covid". Foi com essa declaração controversa que o presidente da (Urbanização de Curitiba) Urbs, Ogeny Maia Neto, respondeu a vereadores em sessão da Câmara Municipal.

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Ele foi convidado para prestar esclarecimentos em relação a um estudo divulgado pela prefeitura juntamente com o Sindicato das Empresas do Transporte Coletivo (Setransp).

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De acordo com o estudo da prefeitura, "o rastreamento, o Centro de Epidemiologia da secretaria cruzou o banco de dados dos testes positivos para covid-19 com os CPFs dos usuários do cartão-transporte da Urbs".

De acordo com dados do Sindicato dos Cobradores e Motoristas de Ônibus de Curitiba (Sindimoc) até o fechamento desta matéria,  62 trabalhadores morreram por conta da covid-19. O dado revela o dobro da taxa de óbitos proporcional ao número total, de 0,4, e a média nacional é de 0,2.

Criticas ao estudo

Para especialistas, vereadores, trabalhadores e usuários, o estudo da prefeitura não é conclusivo. Para o usuário Luis Gustavo de Oliveira, 23, que mora no bairro Fazendinha e trabalha em Araucária, na região metropolitana, não houve redução nos principais entroncamentos, e nos horários de pico os ônibus continuam cheios.

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"Eu não me sinto seguro, mesmo que eles façam a limpeza, eles não param durante o dia, e pessoal sem máscara no ônibus é normal", revela.

O vereador Dalton Borba (PDT) enviou questionamentos para a prefeitura em relação ao transporte. O parlamentar questiona a base de cruzamento de dados entre Urbs e Saúde.

"Sabe-se que há um grande número de assintomáticos ou com sintomas leves, que acabam não realizando testes e que também são usuários do transporte público. Esse número de pessoas não pode interferir nos resultados obtidos e não houve a consideração destes na metodologia realizada", questiona.

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Para o infectologista e epidemiologista Dr. Moacir Pires Ramos, a literatura científica sobre o transporte coletivo e a pandemia foi feita apenas em países da Europa, Ásia e América do Norte, com estruturas mais avançadas e disponibilidade para usuários.

Pires afirma que a possibilidade de infecção dentro do ônibus, sem o respeito ao distanciamento de mais de 1 metro e uso de máscara com boa vedação, é enorme.

"Se existe aglomeração dentro do ônibus, a falha é do sistema, se não existe distanciamento de 1 metro, 1,5 metro é aglomeração". O infectologista ainda critica a metodologia da pesquisa da prefeitura.

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"E será que o cartão transporte consegue garantir a identificação e o cruzamento com os dados da Saúde? O período de incubação é de dois a sete dias, mas pode ser estendido de 10 a 14 dias, então eu posso estar no transporte hoje e apresentar só daqui 10 dias, e utilizar o cartão de outro", explica.

Pires Ramos defende ainda que para Curitiba ter um lockdown de fato, como feito na Europa, o transporte coletivo deveria ser paralisado. "Transporte urbano deveria ser só para trabalho essencial. Ônibus serviria só para isso, e você deveria se identificar e avisar para onde irá se deslocar", reflete.

Bandeira vermelha

O estudo foi apresentado na semana em que o presidente da Associação Comercial do Paraná, Camilo Turmina, questionou a adoção da bandeira vermelha em Curitiba e o fechamento do comércio, falando do papel dos ônibus no avanço da pandemia na capital.

"O ônibus é lugar latente de coronavírus. 50% de ocupação dos ônibus é de quatro pessoas por metro quadrado. Não tem como enxugar gelo. Não parem o comércio, comércio é vida. Comércio é emprego e renda", criticou.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini