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Voto impresso é a nova versão da ‘mamadeira de piroca’ para 2022

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Fake news põem em dúvida urnas eletrônicas - Divulgação Milton Alves
O questionamento de Bolsonaro de nosso sistema de urnas eletrônicas, no mínimo, cheira mal

A campanha do presidente Jair Bolsonaro pela adoção do chamado voto impresso é mais um elemento da estratégia golpista da extrema direita. O objetivo é claro: criar as condições políticas para uma ação de natureza antidemocrática, semeando um quadro de desconfiança entre a população sobre o processo eleitoral que se aproxima.

A campanha visa engrossar uma futura narrativa golpista e deslegitimadora do resultado eleitoral de 2022. O questionamento de Bolsonaro sobre o nosso sistema de urnas eletrônicas, no mínimo, cheira mal. É uma armação golpista – e não pretende nenhum tipo de aperfeiçoamento no sistema de votação.

O registro do voto por urnas eletrônicas no Brasil já alcançou 25 anos de existência assegurando, com efetividade, mais segurança e confiabilidade nos resultados. Até hoje, não foi verificada nenhuma fraude e mesmo possíveis falhas operacionais de monta num país de extensão continental e com um sistema eleitoral complexo.

O voto eletrônico é uma referência positiva do país e uma inegável conquista democrática que precisa, evidentemente, de mais aperfeiçoamento e o aumento continuado do protagonismo dos partidos políticos na elaboração dos protocolos tecnológicos, garantindo critérios de transparência e renovadas medidas de segurança das urnas.

Golpismo e judicialização

Quando o bolsonarismo se apresenta acuado e sofre desgaste, com o país beirando meio milhão de mortos pela Covid-19 e os protestos populares transbordando para as ruas, presta um desserviço quem defende, até com boa intenção, o projeto pilotado pela parlamentar bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF) na Câmara dos Deputados. Defender o voto impresso é lançar uma boia de salvação providencial para o discurso da tropa de choque de Bolsonaro, que vem perdendo fôlego político nas ruas e nas redes sociais.

A tentativa bolsonarista de implantar o voto impresso abre caminho para a quebra do sigilo do voto e o mais danoso, na prática, cria uma “segunda urna” para armazenar os comprovantes de votação -, o que pode se tornar um prato cheio para a judicialização dos resultados.

A proposta bolsonarista é uma armadilha perigosa e não agrega medidas efetivas para uma maior segurança do sistema. Além da dualidade propiciada por uma “segunda urna”, possibilita em caso de resultado apertado uma recontagem manual. “É cilada”, como diz um samba popular.

Mecanismos de auditagem do voto

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou a promoção de uma campanha institucional em defesa do voto eletrônico. A campanha vai apresentar os mecanismos de auditagem e os controles existentes. As etapas e os percursos do voto eletrônico: Da “zerésima” ao boletim de urna com a impressão do total de votos na seção, a checagem no final da votação – conferindo a coincidência entre o número de eleitores e os votos registrados nas urnas.

Há também o registro digital do voto (RDV), um mecanismo que assegura a checagem da urna eletrônica sem violação do sigilo do voto. É uma recontagem automatizada de todos os votos realizada com softwares particulares. O mecanismo pode ser acionado pelos partidos políticos.

O presidente Bolsonaro pretende tumultuar o processo eleitoral de 2022, como fez o ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos [que até patrocinou uma tentativa golpista de invasão do Capitólio]. É, novamente, a conhecida aposta do neofascismo bolsonarista de criar teorias da conspiração para facilitar uma prática política golpista, espalhando fake news sobre as urnas eletrônicas. É uma versão renovada e eleitoreira da “mamadeira de piroca”, dessa vez o objeto do fetiche bolsonarista é a urna eletrônica.

Os partidos de esquerda e progressistas precisam combater e derrotar o nefasto projeto impulsionado por Bolsonaro na Câmara dos Deputados.

Edição: Frédi Vasconcelos