Paraná

Coluna

Dignidade para enfrentar a pandemia

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Bolsonaro já foi denunciado na ONU por descaso no combate à pandemia de Covid-19 - Clauber Cleber Caetano - PR
"Vemos pessoas terem que sair às ruas implorar por esmolas para poderem terem algo para comer"

Há mais de um ano o Brasil sofre pela forma com que o governo federal e alguns governos estaduais, incluindo o governo do Paraná, enfrentam a pandemia mundial de Coronavírus.

Aqui no país não existe por parte das elites empresariais, comerciais e dos novos ricos uma preocupação solidária sobre como os trabalhadores vão enfrentar a pandemia. A lógica deles é exigir a abertura geral e irrestrita de tudo, a qualquer custo.

E os que não falam a língua do negacionismo são taxados de “comunistas”, não se importando se haverá grandes aglomerações sociais ou não, se com isso aumenta ou não o número de casos e de óbitos, não importa: essa elite quer comércio, bancos, escolas, universidades, fábricas, tudo aberto. As elites impõem isso sem se importar se nos levará ao que já vivemos nos dias de hoje, que é um efeito ioiô que faz com que a crise se aprofunde e obrigue as autoridades responsáveis e que respeitam a ciência a tomar medidas eficazes de combate contra a pandemia.

Isto tudo acontece por que causa da posição irresponsável do próprio governo federal, que, até poucas semanas atrás, insistia na lógica que alguns denominam de necropolítica, que coloca o lucro acima da vida, num total e completo desrespeito pela ciência e pelas lições que muitos países do mundo, como Portugal e Inglaterra, que já enfrentaram várias ondas do coronavírus, aprenderam as duras custas de milhares mortes: que o que funciona em primeiro lugar é todo mundo vacinado.

Essas nações perceberam também que para segurar ondas de contágio é necessário o isolamento sério com verdadeiros bloqueios sanitários, ou seja: lockdown, em que se fecha tudo que não é verdadeiramente essencial para conter o desenvolvimento e o avanço do vírus e suas mutações, que aparecem nas diversas cepas que estão aparecendo pelo mundo afora, também como reflexo das grandes aglomerações e o desrespeito pela ciência e pelas autoridades sanitárias.

O desgoverno federal que deveria ser o primeiro a dar o exemplo, pelo contrário, é o primeiro que, em tempos de pandemia mundial, dá os maus exemplos, fazendo tudo que não se deve fazer: como aglomerar, não se proteger com o uso de máscara, orientar o uso de medicamentos de tratamento precoce da doença por meio de indicações medicamentosas que não têm eficácia comprovada.

E isso tudo se soma a sua desastrada forma de se relacionar internacionalmente. Sim, o desgoverno Bolsonaro não prioriza as suas relações internacionais pelo bom nível e pela diplomacia para que o país seja capaz de comprar mais vacinas para poder vacinar a todas e todos.

Bolsonaro insiste em defender o tratamento precoce, num momento em que o país alcança os 400 mil mortos pelo coronavírus, o chefe deste desgoverno insiste em politizar a questão das vacinas, com a vacina Sputnik V, produzida pelo instituto Gamalea na Rússia. Já usada e bem aceita pela população de mais vinte países pelo mundo.

O chefe do desgoverno incorre em crime de responsabilidade, mesmo sendo alertado inúmeras vezes, continua insistindo em suas práticas anticiência e a favor da posição do mercado de que tudo deve abrir e as pessoas devem circular pelas ruas, abrindo tudo indiscriminadamente, mesmo no cenário atual de avanço contínuo da doença.

Mas a fatura para a irresponsabilidade chegou. E ao lado do desgoverno Bolsonaro perfilam-se agora apenas alguns poucos grandes empresários que comungam da ideologia de extrema direita, que desrespeita a vida e a ciência.

Pois há cerca de um mês circulou um manifesto assinado por mais 500 grandes empresários, banqueiros e economistas brasileiros. Saíram da inércia e perceberam que a imposição da lógica do capital precisava dar uma trégua e que o país devia se mobilizar no esforço de conter o vírus, exigindo vacinação em massa, que infelizmente anda a passos muitos lentos. E ou também a aceitar que haja uma política de isolamento social séria que onde for preciso se aplique até as medidas que eles consideram mais severas, que são os bloqueios sanitários.

E a fatura da irresponsabilidade e de sabotagem a política de combate à doença chega também na frente política onde o Bolsonaro vai ter que enfrentar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que averigua a posição do desgoverno Bolsonaro e sua forma de tratar a pandemia, como vimos acima, com descaso, desinformação e orientação de tratamentos precoces sem eficácias científicas comprovadas. Chega a ser irritante a forma como insiste em questões que a ciência já disse que não resolvem o problema da doença, como os tratamentos com remédios que não têm comprovação científica.

O desgoverno Bolsonaro, sobre cujos olhos têm uma viseira cavalar, não consegue pensar um palmo à sua frente, pois se pensasse saberia que o momento da pandemia no Brasil requer um esforço de qualificação e reconhecimento do papel que cumpre socialmente o Sistema Único de Saúde, o SUS.

Sistema que garante que a tragédia em que vivemos atualmente não se transforme numa tragédia ainda pior. Incrivelmente, os críticos mais ácidos do SUS, que achavam que a solução da saúde brasileira é ser entregue toda nas mãos da iniciativa privada, desapareceram, pois viram que o SUS, mesmo sem os recursos públicos que merecia para de fato ser um instrumento garantidor da saúde de todas às brasileiras e brasileiros como um sistema universal de atendimento à saúde da maioria do povo. Mesmo sem esses volumosos recursos que dele são tirados anualmente para acumular superávit primário para pagamento da dívida interna para esses mesmos setores privados que se locupletam com as compras bilionárias de títulos da dívida, ainda assim é o SUS o sistema que garante que a tragédia que vivemos no Brasil não seja ainda pior.

O Brasil patina numa crise pandêmica sem precedentes e a falta de ações coordenadas em alinhamento com a ciência faz com que não consigamos sair de um platô altíssimo de contágio, doença e mortes, que a todo o povo brasileiro tem entristecido a ponto de as pessoas não aguentarem mais tanta pressão.

Ao tentar dar vazão ao discurso do capital de que a economia não pode parar, pois casos contrários CNPJs morrem. Ou seja: justificando isso em contrapartida à vida das pessoas, mulheres e homens, trabalhadoras e trabalhadores, afinal são os pobres que morrem nas filas de hospitais públicos, porque os ricos podem se dar ao luxo de tratamentos de primeira linha e caríssimos, aqui nos grandes hospitais ou mesmo no exterior.

Os pobres infelizmente não têm as mesmas oportunidades de conseguir as mesmas chances de tratamento para a Covid-19, têm que se amontoar nas UPAS enquanto não surgem vagas nas UTI´s dos hospitais públicos, ou que atendam pelo Sistema Único de Saúde.

Não se pode mais admitir que a vida das pessoas seja tratada dessa forma na sociedade, onde mulheres e homens são obrigados, por questões de sobrevivência, a sacolejarem todas as madrugadas e manhãs e aos finais de dia e início de noite em ônibus lotados para não sofrerem a ameaça de perder seus empregos, porque não querem ir trabalhar com medo do vírus, mas ficam sem alternativa de se contraporem à vontade cruel do capitalismo e à busca incessante do lucro que diz que o comércio e a economia não podem parar.

Essa posição política é no mínimo uma insensibilidade de classe, que historicamente procurar massacrar aqueles que vendem sua força de trabalho para poderem sobreviver. Essas trabalhadoras e trabalhadores merecem que agora, num momento ímpar da história mundial e brasileira que o desgoverno federal e os estaduais e o Congresso Nacional lhes garanta o mínimo de dignidade para enfrentar a pandemia sem terem que se arriscar, pois com a volta da carestia, o que vemos é que a pessoas terem que sair às ruas implorar por esmolas para poderem terem algo para comer em suas mesas. O que tinha que ser neste momento viabilizado pelas as autoridades eleitoralmente constituídas nos executivos e no legislativo do Brasil, estados e cidades.

É por isso que todas e todos que tem um mínimo de sensibilidade e bom senso (pois nem isso o desgoverno Bolsonaro tem mais, o censo. Sim o censo demográfico que deveria ser feito esse ano e poderia nos dar condições e os números para discutirmos e de construirmos as políticas públicas que atendessem as demandas sociais para o futuro esse desgoverno não irá realizar. Ou melhor será obrigado pelo supremo a realizar. Mas retomando a ideia é imperativo que todas e todos, mulheres e homens de bom senso resistam à necropolítica do desgoverno Bolsonaro lutando em defesa da vida, da vacinação para todos, o mais rápido possível e isso só será possível sob a égide da bandeira do funcionamento da CPI e da abertura do processo de impeachment de Bolsonaro, por suas ações destratadas e negacionistas no que tange a gestão da pandemia.

Enquanto isso não acontece, precisamos ir para cima do desgoverno Bolsonaro e dos governos estaduais para exigir a defesa da vida, a garantia de vacina para todas e todos, garantir empregos e o auxílio emergencial para que as pessoas possam ter um mínimo de dignidade e comida na mesa para enfrentar o vírus e a carestia que está de volta ao Brasil, depois de mais de uma década que palavras como fome e carestia não estavam no vocabulário do povo, inclusive o Brasil havia sido retirado do mapa da Fome da ONU.

Edição: Pedro Carrano