Paraná

Entrevista

Padre Joaquim Parron: solidariedade exige luta e organização

Padre redentorista atuante da Vila Torres afirma que as melhorias locais foram resultado de organização do povo

Curitiba (PR) |
Padre redentorista defende que é preciso superar o modo de produção capitalista em nome da solidariedade - Pedro Carrano

O padre Joaquim Parron, doutor em ciências sociais e teologia pela Catholic University of America, (Washington/EUA) pertence a Congregação Redentorista e tem se destacado, ao lado de outros segmentos, na capacidade de solidariedade, mobilização e apoio às periferias de Curitiba na mais grave crise social do século 21. Atuante na Vila Torres, com reconhecimento da sociedade, para o teólogo, muito além da imagem de oferecer “a vara e o peixe” é preciso “conquistar também o lago para que todos tenham trabalho, teto e terra, ou seja, vida digna”.

Brasil de Fato PR. Sua trajetória como religioso coincide com a Teologia da Libertação?

Joaquim Parron: Sim, a minha trajetória religiosa está intimamente ligada ao Evangelho de Jesus Cristo que foi ao encontro dos pobres e marginalizados da sociedade. Quando ele diz: “tive fome e me deste de comer” (Mt 25, 35) é a expressão da religião e do cuidado das pessoas e, de modo especial, às menos favorecidas. Quando diz: “Ame a Deus e ao próximo”, então o fariseu pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”, assim ele conta a parábola do Bom Samaritano que encontrou uma pessoa jogada na rua e essa pessoa de bom coração socorreu esse homem ferido. A igreja trabalha com os movimentos populares para levar a mensagem de esperança e também a edificação de um mundo justo e fraterno. A igreja sempre vai defender a dignidade da vida e especialmente dos marginalizados.

O senhor sempre ressalta a necessidade das doações, mas que também é preciso a organização popular e avanço na geração de renda. Como não ficar apenas no dito assistencialismo?

Eu uso três figuras: “o peixe”, “a vara de pescar” e o “lago”. Com as doações de alimentos estamos dando ‘o peixe para matar a fome’. Damos também pelo nosso movimento SOS Cursos Profissionalizantes, que chamo de “ensinar a pescar”. Mas as trabalhadoras e o trabalhadores vão ‘pescar e encontram o lago fechado - já com donos: capitalismo’. Por isso, é preciso formar consciência, despertar para a cidadania e lutar pelos direitos básicos para a vida digna. Assim, podemos conquistar também o lago para que todos tenham trabalho, teto e terra, ou seja, vida digna. Nesse contexto, faz necessário a organização por luta por direitos, moradia e trabalho. A organização supera o assistencialismo – ‘que é dar o peixe”.

Nesse sentido, quais são as experiências de organização em bairros que o senhor acompanha?

Desde muito jovem, dos 17 anos de idade participo de movimentos populares – lutando por moradia, por terra e por salários justos. Os meus cinco primeiros anos da vida religiosa acompanharam e apoiar a Pastoral da Terra - na luta por terra e reforma agrária no Mato Grosso do Sul. Graças a Deus temos mais de mil famílias assentadas até hoje que participaram dessa luta nos anos 80. Também tive participação decisiva no Xapinhal, região que tornou-se a referência de moradia nos anos 80 e 90. Hoje acompanhamos o SOS Vila Torres que ajuda na organização em várias periferias de Curitiba.

A Vida Torres há décadas é símbolo da desigualdade. Faz parte do projeto de urbanismo desigual de Curitiba. Nesses anos todos o que mudou na região?

O que tem ajudado na Vila Torres é a luta constante das lideranças nessa região. Tivemos muitas promessas do poder público em trinta anos, mas com muito pouca realização. Se não fosse a união e a organização comunitária estaríamos com muitas outras desvantagens. Uma luta que caminha paralela é a revitalização do rio Belém, que corta toda a Vila Torres, uma luta ecológica. Lembramos que lutamos por uma ‘ecologia integral’, que salve o planeta, mas também os pobres dessa terra.

Outras experiências organizativas

Em área ocupada por 2 mil famílias em Campo Magro, região metropolitana, o Movimento Popular por Moradia (MPM) realiza projetos como biblioteca, reciclagem e oficinas de produção de materiais de construção, entre outras iniciativas para envolvimento e renda da população local.

A União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), no bairro Novo Mundo, em Curitiba, realiza cozinha comunitária com 200 refeições semanais, a partir de doações do MST, A cozinha é organizada pelos moradores. A UMT avança no projeto de padaria comunitária com oito mulheres do chamado bolsão Formosa.

Organizado por jovens, o projeto @hortas_cwb incentiva, promove e articula hortas comunitárias em diferentes regiões da capital, incluindo a Cidade Industrial de Curitiba (CIC).

Edição: Lucas Botelho