“Já presenciamos a morte de seis pacientes em uma mesma noite, temos dois empregos, estamos cansados e com problemas psicológicos”, resume Arthur Arruda Rocha, técnico de enfermagem atuante na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pinheirinho, integrante também do Coletivo Sismuc, durante a live “BDF entrevista”, no dia 12 (segunda).
Os problemas neste período da pandemia são evidentes e podem ser resumidos pelos trabalhadores: sobrecarga, falta de estrutura nas UPAs, fechamento de US sobrecarregando o atendimento a outras doenças, ausência de insumos necessários, caso de oxigênio e dificuldade de carregar e organizar o espaço, o que fica a cargo dos próprios trabalhadores.
Em resumo: exaustão. Com isso, desde dezembro de 2020, diferentes sindicatos municipais têm se mobilizado, o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc) e o Sindicato dos Sevidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec) chamaram atos de diálogo com a população diante da US Aurora (Novo Mundo), da UPA Boqueirão e, recentemente, o foco é a UPA Fazendinha.
“Profissionais de unidades básicas passaram a atender urgência e emergência. A US não foi feita para isso, foi feita para prevenção e casos crônicos, diários”, afirma Raquel Padilha, presidenta do Sindicato dos Sevidores Municipais de Enfermagem de Curitiba (Sismec), complementando que nas UPAs o perfil é de emergência. Na entrevista, ambos os profissionais da enfermagem colocaram-se contra o processo de terceirização da UPA Fazendinha encaminhado pela prefeitura, e reafirmaram a necessidade de contratação de servidores.
Já o relato de Rocha enfoca a sobrecarga física e emocional do servidor. “Não puderam construir um plano de contingência diante de casos que aumentaram muito. Estamos vivendo um cenário de guerra dentro das UPAS. Vivemos retaliação, perseguição das chefias de forma muito velada, para que ninguém fale nada. Faltam EPIs. Ao mesmo tempo, temos sofrido com o aumento da procura, eixo clínico atendido junto com covid. O paciente acaba procurando a UPA, mesmo sendo apenas casos graves”, afirma Rocha.
O Sismec levanta que 96 trabalhadoras da base da enfermagem criam os filhos sozinhas, o que aumenta a dificuldade nos casos de fechamento e remanejamento de unidades. “É a quarta vez que eles movimentam os profissionais, que passam a trabalhar longe de casa”, protesta Raquel.
Conselho aparelhado
A percepção é de um conselho municipal de Saúde omisso, fraco e aparelhado pela gestão. Os vários comentários durante a live confirmaram a crítica e colocaram a necessidade de fortalecimento do Fórum Popular de Saúde (FOPS), como espaço de fortalecimento e luta pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Visão da prefeitura
A prefeitura, solicitada pelo Brasil de Fato Paraná, posicionou-se sobre as denúncias de sobrecarga e reafirmou o encaminhamento em relação à UPA Fazendinha: “O gerenciamento da UPA Fazendinha passa a ser feito pela Fundação Estatal de Atenção à Saúde, mas mantendo todo o atendimento conforme definição da SMS. Com essa alteração, a Secretaria poderá reforçar o quadro de profissionais desta e de outras UPAs da cidade, para onde serão transferidos preferencialmente os servidores que estão hoje na UPA Fazendinha. A mudança é uma medida de reorganização para enfrentamento à pandemia e de nenhuma forma traz prejuízos aos profissionais e nem à população"
Edição: Lucas Botelho