"GREVE PELA VIDA"

Por risco sanitário, petroleiros entram em greve em refinaria da Petrobras no Paraná

Gestores querem manter a parada de manutenção na unidade, atividade que exigiria o deslocamento de 2 mil trabalhadores

Curitiba (PR) |
Instalação da Repar na cidade de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba (PR) - Divulgação/Petrobras

Os trabalhadores da refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), na cidade de Araucária, região metropolitana de Curitiba (PR), decidiram entrar em greve a partir da zero hora desta segunda-feira (12).

O motivo é a recusa da suspensão da parada de manutenção da unidade, procedimento que envolve mais dois mil empregados, causando riscos de contaminações pelo novo coronavírus, bem como possível sobrecarga do Sistema de Saúde (SUS) da região em caso de acidentes de trabalho.

De acordo com o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC), a gestão da Petrobras insiste em manter os trabalhos no momento mais crítico da pandemia.

Os petroleiros ainda sinalizam que a empresa adiou a interrupção das atividades por duas vezes, em setembro de 2020 e em março de 2021.

Segundo Roni Barbosa, diretor da secretaria de comunicação da Confederação Única dos Trabalhadores (CUT) Nacional e do Sindipetro, o movimento de greve ocorre por tempo indeterminado.

A manutenção dos equipamentos, de acordo com o trabalhador, é rotineira e pode ser adiado neste momento.  Além da aglomeração presente na incorporação de dois mil operários em Araucária (PR), o risco é de sobrecarga geral do sistema de saúde de Curitiba e região.

“A previsão é de 2 mil pessoas a mais do que já tem na refinaria. São vários equipamentos que vão sofrer manutenção. É algo de rotina, já aconteceu várias vezes de adiar prazos, tem alguns equipamentos que demandam serviços de emergência e outros que são programados para parar. O que pedimos é que isso seja postergado para um momento em que a pandemia esteja controlada. Se trabalha com materiais tóxicos aqui. O que acontece se, por exemplo, cinco trabalhadores se contaminam? Haverá leitos nos hospitais?”, questiona.

Os petroleiros aguardam negociação por parte da empresa, situação que tem sido cada vez mais difícil. “Não dá para esperar nada. Nós não esperamos nada dessa gestão bolsonarista. É a primeira greve sanitária, uma greve pela vida. Há falta de informação da empresa com os trabalhadores. Sequer emitiu nota de pesar pelas mortes dos funcionários, sequer informou”, critica Barbosa.

Impactos à saúde do trabalhador

Acionado pelo Sindipetro Paraná e Santa Catarina, Lucas Ferrante, biólogo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou dados alarmantes do ponto de vista da segurança do trabalho.

Os estudos mostram que, das pessoas hospitalizadas devido a contaminação pelo novo coronavírus, 70% desenvolvem problemas renais crônicos e permanentes e 40% apresentam danos cerebrais, além de outras sequelas cardíacas, pulmonares, motoras e cognitivas. “Trabalhador morto não gera renda e sequelado não consegue trabalhar”, pontou o pesquisador.

De acordo com Ferrante, a variante do vírus identificada em Manaus tem duas vezes mais capacidade de infecção do que a versão que gerou a pandemia e circula no Paraná, condição que pode ser piorada com a migração de centenas de trabalhadores de todo o país para uma pequena cidade do estado.

Por requisição do Sindipetro, o pesquisador prepara uma nota técnica sobre a pandemia em Araucária e os riscos que a parada de manutenção na Repar pode causar na região.

O estudo subsidiará as ações do Sindicato em defesa da saúde da categoria e da comunidade local. A equipe de pesquisa científica do biólogo foi responsável por prever a calamidade do coronavírus no Amazonas.

Fonte: BdF Paraná

Edição: Pedro Carrano e Poliana Dallabrida