Paraná

OUTRA PERSPECTIVA

Mulheres negras pedem reparação histórica à escultura no Centro de Curitiba

Obra teve como modelo artista negra; nome popular é pejorativo

Curitiba (PR) |
“Me chamou a atenção a figura da mulher negra erguida em praça pública, mas me frustrou não encontrar nenhuma identificação sobre o trabalho”, diz Eliana Brasil. - Divulgação

Quem percorre as ruas de Curitiba se depara com estátuas, esculturas e bustos de personalidades históricas.

Na Praça José Borges de Macedo, no Centro, por exemplo, há uma escultura conhecida como "Maria Lata D´Água”, do artista Erbo Stenzel. A obra, no entanto, esconde a real identidade da mulher negra ali representada. Trata-se de Emerenciana Cardoso Neves, conhecida artisticamente por Anita Cardoso Neves, uma grande artista invisibilizada na cidade. 

Para fazer reparação histórica, a vereadora Carol Dartora (PT) apresentou um projeto de lei na Câmara Municipal para que o conjunto arquitetônico - escultura e fonte - inaugurado em 1996, pela Prefeitura de Curitiba, receba o nome correto. “Com a aprovação do projeto, a escultura deixará de ser chamada pela expressão pejorativa e será denominada como ‘Emerenciana Cardoso Neves’”, explica. 

Emerenciana cursou a Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, em 1953. Foi escultora, poeta, contribuiu com enredos de escolas de samba, fez declamações de seus poemas em rádios. Colega de Erbo Stenzel, Emerenciana foi modelo para a criação da escultura. 

 

A história a partir da perspectiva negra 

Uma das responsáveis pela descoberta da identidade da escultura foi a artista visual, pesquisadora e performer Eliana Brasil. “Me chamou a atenção a figura da mulher negra erguida em praça pública, mas me frustrou não encontrar nenhuma identificação sobre o trabalho”, diz. 

A pesquisadora conta que só foi saber detalhes da obra na universidade, quando conheceu a biografia de Stenzel e o nome original da escultura: “Água pro morro”. Em 2018, Eliana realizou um trabalho de extensão a partir da obra. “Meu trabalho tratava sobre resistência, re-existência e solitude. Era de alguma forma o que a imagem daquela mulher negra representava para mim”, lembra. 

A pesquisa ganhou força com o apoio do movimento feminista negro. “A história da Emerenciana é importante para denunciar o apagamento e a invisibilização da mulher negra”, avalia Tânia Lopes, doutora em Educação, militante da Movimenta Feminista Negra e Coordenadora do Instituto de Pesquisa da Afrodescendência. 

Para Tânia, contar a história da artista por trás da escultura “visibiliza e ensina à Curitiba outras histórias da nossa sociedade, a partir da perspectiva das mulheres negras”. 

Edição: Pedro Carrano e Lia Bianchini