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Como a necropolítica trata a pandemia de coronavírus no Paraná e no Brasil

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A postura do governo é de negar que os setores representativos dos trabalhadores possam participar desses comitês de crises - ADONIS GUERRA/ SMABC
Postura do governo é de recusar que a representação dos trabalhadores participe de comitês de crise

A pandemia de coronavírus faz com que se tenha a sensação de que, para resolver os problemas, sejamos obrigados a passar momentos que nos levam a um verdadeiro teatro das sombras e da morte, quando o assunto é o combate do vírus por parte dos políticos.

Claro que há exceções importantes, mas em regra geral é a postura da maioria dos políticos tradicionais: tratar a pandemia com a peculiar retórica política nos executivos municipais, estaduais e mesmo em muitos legislativos é se alinhar a política de descaso do desgoverno Bolsonaro.

Por que tentam nos enganar que a situação é diferente do que realmente é? Ou seja: usam do dom da retórica para tentar nos convencer que eles estão enfrentando a pandemia com sucesso e com postura mais combativa científica e mais organizada do que em outras esferas.

É nessa postura seguidista do governo do Paraná a política do desgoverno federal busca também não envolver de forma direta os representantes dos trabalhadores nas tomadas de decisão que o governo do Paraná, resolveu encarar a pandemia, até aqui.

Pois existe há muitos meses um clamor por parte dos representantes dos trabalhadores no estado, de todas as centrais sindicais, para que possam ser chamados a opinar sobre a resolução da crise pandêmica, assumindo compromisso no que tange ajudar a orientar a sociedade para o melhor caminho de enfrentamento da pandemia no Paraná.

Isso inclusive expresso pela pressão dessas entidades que com muita luta conseguiram que o governo assinasse o decreto de lei nº 5.506 de 24 de agosto, que cria um Comitê Tripartite para enfrentar e proteger os direitos dos trabalhadores durante a duração da pandemia de Covid-19. Clamor esse totalmente desconsiderado até os dias atuais, em que esse comitê ainda não iniciou seus trabalhos. A pressão sobre as trabalhadoras e trabalhadores é também explicitada pela forma com que o governo de Ratinho Junior enfrenta a política educacional, pressionando cotidianamente pela volta às aulas presenciais no Estado, desconsiderando os altos índices de contaminação e mortes que o Paraná vive nos dias atuais. Os representantes dos professores, leia-se a APP/Sindicato, entidade que vem sofrendo desde a virada do ano de 2019 para o ano de 2020 uma perseguição sem precedentes por parte do governo estadual, este tentou inclusive ingerir na forma de como o associado ao sindicato devia refazer sua opção individual, dada no momento de filiação ao sindicato ao tentar impor uma proposta de recadastramento ilegal, desconsiderando a vontade dos integrantes da categoria que optou num ato de foro íntimo e individual a sua filiação no Sindicato. Isso sem falar em outras pressões ao Sindicato e a categoria durante o decorrer do ano de 2020 e início de 2021.

A tentativa de imposição pela volta às aulas deve-se, dentre outros motivos, porque o governo estadual sofre por parte das entidades de representação do ensino privado pressão total para a volta às aulas presenciais e busca na lógica da volta às aulas na rede pública uma forma de dar a permissão do estado também a uma volta de forma massiva no ensino privado.

Essa posição cristalizada do governo e de sua Secretaria de Educação se transformou num grande revés e uma lição que o governo Ratinho foi obrigado aprender, forçado pela resistência da categoria na posições da sua entidade de representação, que sempre alertou a tragédia que poderia ser e pela atualidade do avanço do vírus em função de as medidas restritivas não terem sido mais duras no começo da pandemia.

A postura do governo é de negar que os setores representativos dos trabalhadores possam participar desses comitês de crises. A determinação em não deixar as representações participarem da resolução dos problemas fazem com que o governador do Paraná descumpra a aplicação do seu próprio decreto lei 5.506 de 24 de agosto de 2020.

Na perspectiva dos trabalhadores, mesmo fazendo mais de oito meses sem a instalação do comitê tripartite de crise, ainda insistem para que isso mude e que se garanta a participação que tem sido cobrada cotidianamente por parte das centrais sindicais, seus sindicatos e federações na resolução dessa crise pandêmica sem precedentes. Só assim, ouvindo a todos, empregados e patrões, que o governo terá chance de amenizar os alarmantes índices da doença.

O governo estadual de Ratinho Junior e o governo municipal de Rafael Greca precisam se descolar da necropolítica do desgoverno Bolsonaro e chamar as forças sociais para lutar em defesa da vida e da resistência ao vírus, com ações firmes e coordenadas, com as autoridades de saúde, que estão sendo necessárias de aplicação de lockdown geral em muitas regiões do Paraná e em Curitiba, de parar de insistir na volta às aulas presenciais enquanto a maioria da população não estiver vacinada.

Junto a tudo isso é também necessário o olhar fraterno aos que mais necessitam e sofrem na pandemia instituindo de auxílios emergenciais complementares ao vergonhoso auxílio emergencial proposto pelo desgoverno de Bolsonaro (que foi aprovado no Congresso Nacional) e também com políticas firmes de manutenção de empregos e direitos das trabalhadoras e trabalhadores. Só assim conseguiram se desvencilhar e romper com a simples retórica da necropolítica que tem conduzido ao teatro das sombras e da morte, da forma como tratam a pandemia de coronavírus no Brasil.

Edição: Pedro Carrano