Paraná

MINICONTO

O glorioso fardo

Coluna Luzes da Cidade: "Em meio a esse silêncio mortífero da noite, carregamos essa caixa de madeira e cimento"

Londrina (PR) |
Em meio a esse silêncio mortífero da noite, carregamos essa caixa de madeira e cimento - Arte: Vanda Moraes

- Isso é uma aventura! – Ela havia dito. Fora lá no começo, gritara ao silêncio dos pássaros. Que tempos! Ela exalava uma juventude particular. Menos pelo tempo de vida e mais pela novidade do existir daquela empreitada. Um brilho singular. Um bege com violeta no semblante. Parecia soar uma música no fundo do nosso âmago. Uma marcha eufórica e triunfalista da cor da esperança raspada no coração de pedra dos dragões da ressurreição. Consigo ainda hoje cantarolar essa marcha. Será que existiu? Ou apenas era o som da natureza do seu entusiasmo?

E agora? Em meio a esse silêncio mortífero da noite, carregamos essa caixa de madeira e cimento. Sua voz agora é apenas uma resposta distorcida do eco dessa montanha cruel. Mas mesmo assim carregamos essa caixa e o peso de tudo que isso representa.

E aonde ela está? Nessa caixa? Que trazemos aqui dentro? Meu corpo dói, mas a palma amiga me consola.

- Agora é minha vez – ela diz.

Agora posso beber dos lábios da paz momentânea, antes de levar o glorioso peso.

Edição: Pedro Carrano