Paraná

Covid-19

Curitiba pode ultrapassar 80 mortes diárias entre março e abril, aponta estudo

Nota Técnica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia recomenda lockdown na capital paranaense

Curitiba (PR) |
Pesquisadores alertam para 3ª onda na capital paranaense, com proporção quatro vezes maior que a 1ª e a 2ª - Marcio James / AFP

Curitiba pode registrar uma taxa de 80 a 90 mortes diárias por Covid-19 entre o final de março e início de abril. Caso não sejam adotadas medidas rígidas de combate à pandemia, existe a possibilidade de se ultrapassar a taxa de 100 mortes diárias. Os números foram publicados na segunda (08), na Nota Técnica do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) sobre a pandemia na capital paranaense.

"Apontamos para o risco iminente de uma terceira onda de Covid-19 em Curitiba, com proporção quatro vezes maior que a
primeira e segunda ondas já vivenciadas pela capital em 2020", afirmam os pesquisadores no documento.

A Nota reporta as conclusões de estudo adotando o modelo SEIR (Susceptíveis-Expostos-Infectados-Recuperados). Esse modelo estatístico computacional constitui ferramenta primária para estudos epidemiológicos de resposta à Covid-19 a nível global. Os modelos SEIR têm predito com precisão o aumento de casos, internações, óbitos e a ocorrência de novas ondas no Brasil, a exemplo da segunda onda em Manaus. O texto alerta que “a negligência em ignorar estes resultados têm representado um alto custo de perda de vidas.”


Modelo estatístico computacional SEIR projetou a curva de óbitos (em preto) a partir de março de 2021 / Inpa

500 mil pessoas em risco

No total, Curitiba registra, até o momento, 150.564 pessoas infectadas e 3.094 mortes. O boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde nesta terça (9) mostra 20 novos óbitos nas últimas 48h. São 11.035 casos ativos na cidade, correspondentes ao número de pessoas com potencial de transmissão do vírus.

Os pesquisadores alertam que a situação atual da capital paranaense "por si só é grave". Fatores como o relaxamento do distanciamento social e o retorno das aulas nas modalidades presencial ou híbrida devem agravar ainda mais a situação.

"Estima-se que este retorno iria acelerar a transmissão da Covid-19, colocando em risco de infecção mais de 500 mil pessoas em Curitiba", consta na Nota.

A flexibilização das atividades, de forma geral, e o retorno às aulas nos modelos presencial ou híbrido deve acontecer, segundo o documento, "quando limiares de imunização de rebanho via vacinação forem adquiridos pela população, assegurando-se que a cidade não esteja em níveis de transmissão comunitária."

Lockdown

Diante desse cenário, a recomendação dos pesquisadores é de que a cidade adote lockdown com restrição superior a 90% da população por um período mínimo de 21 dias. Junto ao isolamento social, a orientação é para que o município aumente as taxas de imunização.

Até o momento, Curitiba vacinou 89.544 pessoas com a primeira dose. Apenas 32.186 pessoas receberam as duas doses recomendadas. No plano municipal de vacinação, estão previstas no grupo prioritário mais de 692 mil pessoas. 

A Nota Técnica é assinada por seis pesquisadores das seguintes instituições: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) – Programa de Biologia (Ecologia); Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Universidade Federal do Amazonas (UFAM); Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ);  Instituto Butantan (pesquisadora aposentada).

Resposta da Secretaria Municipal de Saúde 

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde solicitando posicionamento oficial diante dos números e das recomendações contidas na Nota Técnica. 

A Secretaria respondeu a experiências demonstraram que a pandemia se comporta com logística variável e não em progressão geométrica (na qual baseia-se o estudo). "Curitiba vem adotando medidas sanitárias desde o registro dos primeiros casos, em 11 de março de 2020, o que faz com o cenário apontado pela pesquisa não se concretize", diz a resposta oficial.

Sobre a recomendação de lockdown, a Secretaria explicou que as medidas de combate à pandemia são planejadas de acordo com o sistema de bandeiras, que foi adotado na cidade em 2020. "Semanalmente são avaliados nove indicadores do crescimento da pandemia e capacidade de resposta do sistema de saúde. No momento a cidade encontra-se na bandeira laranja, com 2,45. Para a cidade entrar em bandeira vermelha, o cálculo dos indicadores deverá somar a pontuação 3 ou superior. Caso Curitiba atinja esse panorama medidas mais restritivas podem vir a ser adotadas", informa.

Por fim, sobre a necessidade de aumentar a imunização da população, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que a "aceleração da imunização em Curitiba depende de repasse de maior número de doses por parte do Ministério da Saúde. Havendo doses, a cidade tem capacidade de imunizar cerca de 15 mil pessoas por dia".  

Edição: Lia Bianchini