Paraná

Mês das mulheres

Professoras falam sobre insegurança na pandemia

O sentimento é de medo com o retorno às aulas presenciais e pelas más condições de escolas

Curitiba (PR) |
“Dentro da realidade escolar, não há segurança, principalmente em escolas que atendem crianças", relata professora do Paraná - Marcos Santos - USP

As mulheres acumulam funções, atividades domésticas, maternidade, corrida na vida profissional... Com a pandemia, essa realidade se agravou para muitas. As professoras, por exemplo, viram suas casas se transformarem em salas de aula com o trabalho remoto e, agora, enfrentam o medo do retorno ao trabalho presencial.

No mês que marca o Dia Internacional da Mulher (8 de março), o Brasil de Fato Paraná traz vozes dessas mulheres, professoras, mães, que lutam para mudar a realidade e se mostram comprometidas com a educação, apesar das más condições de trabalho.

Esse é o caso de Maria Ângela da Motta, professora da rede municipal de ensino de Curitiba. Ela é mãe solo de uma filha de 21 anos e um menino de 6. Trabalha de manhã e à tarde, com aulas de Língua Portuguesa para turmas de 1º ao 6º ano. A demanda de trabalho, ela conta, aumentou em 2020.

“Cumpri muito mais que 8 horas. Minha rotina se dividia entra as aulas, o preparo técnico das aulas gravadas, o atendimento o dia inteiro dos alunos e pais via WhatsApp, mais registros nos relatórios sem que houvesse nenhum suporte técnico da mantenedora. Junto com isso, tive que ajudar meu filho que está no primeiro ano”, diz Maria.


"“Cumpri muito mais que 8 horas", relata a professora sobre trabalho na pandemia / Arquivo pessoal

 Já a professora Ângela Maria de Castro dividiu-se entre a orientação a sua filha de 11 anos e seus estudantes em período integral. “Tivemos que aprender a mexer com tecnologia, sem termos formação para isso. Foi mito difícil”. Ângela diz que a sua experiência como mulher e professora só trouxe aprofundamento da desigualdade de gênero. “Tivemos mais e mais sobrecarga de trabalho dentro de casa e também na profissão”, relata.

Para a diretora de uma escola municipal de Curitiba, a professora Flavia Karine Vantroba, a função trouxe desafios muito maiores durante a pandemia. Muitas vezes, ela diz ter imaginado que não daria conta. “Gerir uma escola em home office foi muito difícil. Como fica numa região onde nem todos têm internet, tivemos muita dificuldade para ter acesso às famílias. Foram dias de muita ansiedade, nos quais muitas vezes achei que não daria conta”, lembra.


"Foram dias de muita ansiedade, nos quais muitas vezes achei que não daria conta”, afirma diretora de escola / Arquivo pessoal

Volta às aulas presenciais 

Ao iniciar 2021, as professoras começaram a se organizar para o retorno das aulas presenciais. Apesar da suspensão temporária nesta semana, devido ao agravamento da pandemia, o retorno presencial continua previsto para acontecer normalmente. Isso tem gerado insegurança e críticas da categoria dos professores à ausência de um protocolo de segurança e de proteção para os profissionais contra o vírus.

“Dentro da realidade escolar, não há segurança, principalmente em escolas que atendem crianças. Elas aprendem pela interação social. Eu, como diretora, não me sinto segura com o retorno presencial”, diz Flávia.

A professora Maria é taxativa. “Na minha escola a estrutura é antiga, com janelas pequenas, salas mal ventiladas e não temos água”, conta. O sentimento de insegurança também é o de Ângela. “Na escola onde trabalho morreram três profissionais por causa da Covid-19. Agora, em fevereiro, outros três testaram positivo quando estávamos em reuniões pedagógicas. A mantenedora não se importa. Mas nós temos medo. Eu tenho medo de contrair, medo de contaminar uma criança, medo de ser responsável pela morte de alguém”, desabafa.

Segundo o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal de Curitiba (SISMMAC), pelo menos seis escolas foram fechadas em fevereiro por casos de Covid-19. Os sindicatos têm recebido ainda denúncias da ausência de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados, problemas no abastecimento de água, falta de funcionários para supervisionar as crianças e estrutura inadequada para receber os alunos da forma como foi definida pelo protocolo da Prefeitura.

Edição: Lia Bianchini