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Direto da Redação

Brasil vive perigo da privatização dos direitos sociais, analisa economista

Juliane Furno foi uma das convidadas do programa BdF Direto da Redação, que discutiu "Brasil x Argentina na pandemia"

Curitiba (PR) |
"Faltou autoridade nacional com capacidade de coordenar esforços” de combate à pandemia, diz Juliane Furno, no BdF Direto da Redação - Alan Santos/PR

O BdF Direto da Redação da última sexta-feira (5) debateu “Brasil x Argentina”, como os países sul-americanos têm lidado com a pandemia, quais são as semelhanças e as diferenças em quesitos políticos e econômicos.

O programa teve como convidados Juliane Furno, doutora em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), assessora parlamentar da Câmara Federal e militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular, e Daniel Carceglia, educador popular, professor da Universidade Nacional de Quilmes, Coordenador Acadêmico da Universidade Plurinacional de la Patria Grande, Coordenador do Programa de Educação Popular e Formação Laboral (Universidade de Quilmes) e diretor de Alfabetização e Educação Alternativa (Município de Quilmes).

Há pouco mais de um ano sob o governo do progressista Alberto Fernández, a Argentina chegou a ser exemplo mundial no combate à pandemia. Com a chegada do vírus no país vizinho, a primeira medida de Fernández foi decretar uma rígida quarentena. Com o passar dos meses e o início da flexibilização das medidas restritivas de circulação, a Argentina viu o número de mortos e infectados aumentarem no final de 2020. Hoje, o país contabiliza 1,9 milhão de casos de Covid-19 e pouco mais de 49 mil mortes. A Argentina tem população de 44,9 milhões de pessoas.

“Vamos entrar na segunda onda com uma taxa de contágio mais alta. Por outro lado, temos vacinas. No entanto, o processo de vacinação está mais lento do que deveria”, disse Daniel Carceglia.

O professor lembra, porém, que o coronavírus chegou em uma Argentina ainda em reconstrução, após o governo neoliberal de Maurício Macri. “Tivemos quatro anos de uma pandemia neoliberal e conservadora e entramos em um ano de pandemia sanitária. Essa pandemia neoliberal e conservadora deixou um país desarmado para a resistência sanitária que deveria ter contra o coronavírus. Ainda assim, a Argentina não teve que decidir nunca a quem destinar uma cama de UTI, por exemplo”, afirmou.

Diferente do país vizinho, o Brasil nunca foi exemplo em termos de combate à Covid-19. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no início da pandemia, fez pronunciamento oficial afirmando que o vírus era apenas “uma gripezinha” e defendeu o “tratamento precoce” com um remédio sem comprovação científica de eficácia do combate ao vírus. O país registra 9,5 milhões de infectados e mais de 232 mil mortes.

Para Juliane Furno, “faltou autoridade nacional com capacidade de coordenar esforços” de combate à pandemia. “A falsa oposição que Bolsonaro lançou entre vida e economia fez com que o Brasil não salvasse nem vidas nem economia. O impacto da morte de mais de 200 mil pessoas é inestimável do ponto de vista social, mas é também grave do ponto de vista econômico, impacta de um modo geral na produtividade da economia, na destruição de rendas das famílias”, pontuou.

Juliane explica que o governo deveria, por exemplo, ter constituído políticas de manutenção de emprego e renda “como aconteceram na Argentina, como o aumento da liquidez e crédito das empresas com a contrapartida de não ter demissões”. A política negacionista do governo federal, na análise da economista, tem um impacto significativo no crescimento do nível de pobreza no país.

O grande perigo num futuro próximo, ainda em um país imerso na pandemia, segundo Juliane, é a “privatização dos direitos sociais” no Brasil.  “A gente vai assistir provavelmente o coroamento da estratégia neoliberal, o esvaziamento das políticas sociais universais para financiar uma política social focalizada [como o auxílio emergencial]. Você desresponsabiliza o Estado de prover serviços universais (como seguridade, saúde) e transfere renda para famílias mais pobres para que elas comprem esses serviços da iniciativa privada. É a privatização de direitos sociais - que não deveriam ser mercadoria - e o aumento da financeirização da economia”, explica.

O BdF Direto da Redação vai ao ar todas as sextas, às 11h30, na página de Facebook e canal do YouTube do Brasil de Fato Paraná.

Edição: Pedro Carrano