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Crônica: segunda-feira ao Sol

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"ele pensou naquele filme, viu com Maíra nos bons tempos, filme triste pra cacete, operários de um estaleiro na Espanha perderam o emprego" - Reprodução de pintura de Van Gogh
"O Velho está desempregado, o Fábio foi morar na rua, às vezes aparece lá na marmita do sindicato"

Ele ainda tinha alguns trocadinhos sujos pra pagar a barca e atravessar pro outro lado do rio. Não era compromisso nenhum, só a vontade de ficar em movimento, Queria visitar o Velho, o Bigode talvez também estivesse lá no bar, ajeitou a máscara e pensou que porra, chamou o Bolsonaro de filha de uma puta, na real de um puto. Recordou da greve, faz cinco anos certinho, ele ainda usa o uniforme laranja até hoje. Não tinha jeito, agora o olhar perdido do jovem no banco do lado, o tom da água às sete da manhã é o único momento tranquilo do mundo, talvez fosse isso que buscasse, quase o gosto calmo de um cigarro. O Velho está desempregado, o Fábio foi morar na rua, às vezes aparece lá na marmita do sindicato, na praça, ele mesmo tava pensando em ajudar na barbearia do Bil. Serviço quarteirizado, porra?, tirava com o amigo. A barca faz a curva na esquina do manguezal, um resto de lixo desliza azul pela água barrenta, ele pensou naquele filme, viu com Maíra nos bons tempos, filme triste pra cacete, operários de um estaleiro na Espanha perderam o emprego e anos depois se viravam do jeito que dava. O barulho da barca tocando em terra firme e a pergunta que agora ele tinha que encarar: que dia é hoje?

Edição: Lucas Botelho