Paraná

Pedágio

PEDÁGIO: Paranaenses vão pagar mais caro pelo quilômetro rodado

"Desconto" em uma cancela será recuperado pelo aumento dos pontos de cobrança. No fim, fica mais caro, aponta estudo

Paraná |
Modelo repaginado segue caro para os paranaenses. - Jorge-Woll_DER

Alvo de incontáveis polêmicas e investigações de superfaturamento e obras inacabadas, os paranaenses finalmente se tornariam livres das cancelas dos pedágios com o fim dos contratos de concessão. Mas eis que o Governo do Paraná, em parceria com o Governo Federal, está oferecendo ao contribuinte uma super oferta: prorrogar por mais 30 anos as praças de pedágio com um leve desconto nas tarifas. Só que o barato vai sair caro. Levantamento exclusivo obtido pelo Porém Net mostra que os motoristas que trafegarem pelas estradas do Paraná vão, na prática, pagar mais pelo quilômetro rodado. Como? Ao aumentar o número de praças, as concessionárias “diminuem” o valor, mas ganham mais na quantidade. É o que aponta o estudo e a gente explica a seguir. 

Você já teve a sensação de que um produto ficou mais caro na prateleira do supermercado embora tenha reduzido o valor? É mais ou menos assim com a nova proposta do pedágio. É como aquela latinha de refrigerante que custa 1 real na embalagem de 300 ml e 95 centavos na de 230 ml. Aí, quando você soma o litro, viu que pagou a mais na quantidade.  Essa é a pegadinha proposta pelo governador Ratinho Júnior (PSD) e as concessionárias na proposta de renovação da concessão com a ampliação de mais 15 pontos de cobrança. 

 


Governo apresenta proposta que aumentam as praças de pedágio / Divulgação

Ao apresentar os trajetos e valores, parece vantajoso, uma vez que, segundo o governo, “o mecanismo confere maior equidade aos usuários, dado que a tarifa será mais aderente à capacidade da infraestrutura oferecida e o usuário não paga antecipado por duplicação futura. A tarifa aumenta em linha com aumento da capacidade da rodovia”.

Governo apresenta proposta que aumentam as praças de pedágio

Só que analisando o aumento da extensão viária de 2,5 mil km para 3,3 mil km, isso representa um aumento de 825 quilômetros na cobertura (32,97%). Por outro lado, o aumento das praças de pedágio de 27 para 42, 15 a mais, equivalem a um crescimento de 55,56% em todo estado. São mais cancelas para pegar o motorista.

O governo argumenta que ocorrerá uma redução da tarifa por trajetos, como no Corredor da BR-277, em que o valor cairia de R$ 143,30 para R$ 97,31 para carros de passeio com o novo projeto. Contudo, o estudo produzido pelo economista Cid Cordeiro Silva mostra que, na prática, a distância entre uma praça de pedágio e outra caíra de 92,67 km para 79,21 km. 

O pulo do gato é: a tarifa cheia cai, mas na média continua nos mesmos patamares atuais. “A estimativa é que a tarifa cheia tenha uma queda de 15%, o valor médio atual estimado (para esse estudo) de R$ 10,00 passaria para R$ 8,50. No entanto, a tarifa média por Km deve permanecer no mesmo patamar atual: R$ 0,11 (onze centavos) por Km – valor estimado”, esclarece Cordeiro.

O negócio é bom, mas não para os paranaenses que vão pagar a conta. Com o modelo repaginado, “o faturamento das concessionárias passaria dos atuais R$ 2,5 bilhões (2019) para R$ 2,7 bilhões, incremento de R$ 200 milhões (valores estimados)”, calcula o economista.

Modelo repaginado segue caro para os paranaenses.

O discurso lindo e maravilhoso de modernização das estradas não tem sido uma via fácil há 24 anos, quando as concessões foram entregues ao setor privado e que, em muitos casos, não fizeram o serviço de ampliação e manutenção contratado, como avalia o líder da oposição na Assembleia Legislativa, professor Lemos (PT). Para ele, o contribuinte está sendo duplamente penalizado. “Devolve para o Governo Federal cuidar das rodovias. Tem lugares que não tem pedágio. Você tributa de novo a população. A gente já paga tributos para a construção e a manutenção com impostos como nos combustíveis, o IPVA, por que cobrar de novo por esse serviço”, indaga Lemos.

 

Edição: Ana Carolina Caldas