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Tributo aos mortos pelas violências no Brasil

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"Quais ausências na formação dos homens os levam a esse estágio de selvageria que elimina uma vida na primeira contrariedade? " - Carolina Antunes/PR
Uma medida urgente e necessária é o afastamento do presidente da república

Violência, esse é o tema principal de qualquer linha de balanço que possamos fazer deste 2020, ao menos no Brasil.

Sintetizo esse breve balanço em três eixos centrais: Primeiro, os efeitos da falta de planejamento do governo federal para o enfrentamento da circulação do vírus Covid no país. Ao afastar dois ministros da saúde, Bolsonaro, por sua conduta negacionista, selou os rumos da pior tragédia histórica da História brasileira.

Ao nomear como terceiro ministro da saúde o general Eduardo Pazuello, aquele que afirmou “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, o presidente da república submeteu a ciência ao jogo de interesses da pior politicagem da História dessa república atrasada. Ao tripudiar sobre a pandemia, chamando-a de gripezinha, debochando dos que tomaram os devidos cuidados recomendados pela saúde e finalmente confundir o povo sobre a eficácia das vacinas vamos assistindo, infelizmente em terrível apatia coletiva, o desfile de mortos/as não cessa.

A barca do ano de 2021 carrega milhares de vidas que poderiam estar preservadas, tal como governos sérios tem feito com suas populações. O Brasil está no topo de países com maior número de mortos por milhão. Ao realizar uma simples análise é possível reafirmar o que já colocamos em artigo quando o país atingiu a marca de 70 mil mortos, a guerra para o vírus foi perdida por falta de combate.

O segundo eixo é a violência contra as mulheres. O número de assassinatos de mulheres no Brasil é um horror, um atentado mundial que não basta apenas manifestações de repúdio de autoridades, celebridades, da militância contra a violência de gênero ou de amigos/as e familiares das mulheres mortas pelos seus maridos, ex-maridos, namorados, ou atacadas por estranhos. É preciso identificar as causas de uma cultura machista arraigada na sociedade brasileira. Quais ausências na formação dos homens os levam a esse estágio de selvageria que elimina uma vida na primeira contrariedade? O que cabe às família, às escolas, à sociedade como um todo nesse enfrentamento? Por sua vez, o governo federal nada contribui para que esse quadro tão difícil seja compreendido e confrontado. Ao contrário, a forma como o presidente da república se reporta publicamente, no que tange ao apoio às facilidades de aquisição de armas, favorece cada vez mais a violência de gênero e demais manifestações de desapreço à vida. Ao invés de reunir especialistas para desenvolver um plano desse enfrentamento, o governo brasileiro ataca as pautas de uma proposta de educação que pudesse promover uma nova cultura entre meninos e meninas.

O terceiro tema diz respeito à violência provocada pelo racismo. As manifestações de massa contra a violência policial e o racismo estrutural nos Estados Unidos serão lembradas em todos os balanços deste 2020 mundo afora. No Brasil, essa violência não é diferente. Ocorre que mais uma vez a institucionalidade racista encontra uma sociedade acomodada numa apatia perturbadora. O povo negro de nosso país está morrendo em maior número pela Covid, pela violência policial sobre a juventude, pela falta de condições de acesso aos bens e riquezas dessa nação que está entre as mais desiguais do mundo. Mais uma vez vemos predominar nas autoridades públicas a negação de que o Brasil seja uma pátria racista. O prefeito de Curitiba Rafael Greca (DEM), foi uma dessas lideranças a recusar essa dura realidade. No governo Bolsonaro, são inúmeras lideranças a negar essa realidade histórica cotidianamente.

Por fim, realizar esse breve balanço de 2020 no Brasil deve nos colocar os desafios centrais para que a superação dessas mazelas terríveis sejam de fato enfrentadas. Pois então nos preparemos para um 2021 que encontrará a sociedade brasileira carente de uma postura de aprendizado e de decisão coletiva para a escolha de um futuro melhor.

Uma medida urgente e necessária é o afastamento do presidente da república, um celerado que só faz alimentar o que de pior a sociedade brasileira ainda carrega. O novo presidente da câmara poderá abrir esse processo, mas a pressão popular se fará necessária, afinal os mais ricos estão muito bem obrigados neste atual governo.
Um bom ano novo a Todas e Todos, apesar de tudo!

 

Edição: Pedro Carrano