Paraná

Coluna

Crônica: Maradona e a arte de perceber o outro

Imagem de perfil do Colunistaesd
Porém, num mundo rápido onde perceber o outro é uma capacidade que perdemos, quando penso em Maradona, recordo sempre este episódio.
Porém, num mundo rápido onde perceber o outro é uma capacidade que perdemos, quando penso em Maradona, recordo sempre este episódio. - You Tube
A surpresa do programa foi que, de repente, a produção convidou e Diego Maradona entra no estúdio

Eu morava em San Cristobal de las Casas, no sudeste do México, abrigado de passagem na casa de uma amiga. Depois de muito tempo de estrada, finalmente tinha contato com uma televisão e canais por assinatura. O aparelho brilhava na sala como um animal estranho. Estava num daqueles domingos com o corpo e mente pedindo inércia, o olhar baixo atraído pelo sinal da tevê que, hoje sabemos, foi feito pra relaxar soldados tensos. Sem mais, o zap do controle remoto passou por um canal esportivo argentino que entrevistava e contava a história do Gabriel Batistuta, o “Batgol”, já em final de carreira naquele ano de 2005.

A surpresa do programa foi que, de repente, a produção convidou e Diego Maradona entra no estúdio, jeito amigo, bonachão, abraça todo mundo, tira sarro de si mesmo e toma parte no debate.

O que mais me impressionou naquele episódio, e vez ou outra me vem à memória, foi o fato de que Maradona em nenhum momento do programa falou de si mesmo, de sua carreira, de seus feitos – o que seria esperado para um gênio reconhecido da bola, símbolo da resistência de um país. Ele ficou analisando a carreira de Batistuta - “Este animal” -, como o chamava. Debateu, riu, valorizou o amigo. Deixou-o até constrangido com os elogios e com o entusiasmo de uma boa roda de conversa. “No, Diego, pará!”.

Não sei se o craque sempre tem essa postura. Todos nós, de alguma forma, somos inconstantes, contraditórios, vacilantes. Porém, num mundo rápido onde perceber o outro é uma capacidade que perdemos, quando penso em Maradona, recordo sempre este episódio.

Edição: Gabriel Carriconde