Paraná

Enchentes

“Quando chove, temos medo de sair de casa e perder tudo”, diz moradora do Parolin

Obra no rio Guaíra começou em 2016 e não foi finalizada. Moradores se dizem esquecidos pela prefeitura de Curitiba

Curitiba (PR) |
Cada vez que chove, as casas no bairro Parolin sofrem alagamentos. - Giorgia Prates

“O morador do Parolin, quando começa a chover, não sai de casa. Quando chove, temos medo de sair de casa e perder tudo. E às vezes a gente não consegue voltar mesmo, devido às ruas alagadas”, conta a moradora Angélica, 27 anos. Na última chuva forte ocorrida em Curitiba, na semana passada, ela disse que não conseguia atravessar a Rua Brigadeiro Franco para chegar em casa, devido ao alagamento. “O que a gente mais queria é que melhorasse a situação deste rio para que a comunidade pudesse transitar em dia de chuva”, diz a moradora do bairro Parolin.

Uma obra para conter as cheias do rio Pinheirinho e seus afluentes (que inclui o rio Vila Guaíra e os córregos do Curtume, Santa Bernadete e Henry Ford) foi iniciada em 2016, e até hoje não foi finalizada. O rio Guaíra passa no “valetão”, como chamam os moradores, a obra para escoamento da água feita pela prefeitura que estava prevista para terminar em 2020. Na semana passada, a chuva forte ocasionou novamente enchente e muitos moradores perderam pertences pessoais e móveis.  Apesar disso, o prefeito Rafael Greca (DEM), que estava em campanha para sua reeleição, no mesmo dia da chuva, usou suas redes sociais para dizer que ‘"as fotos publicadas por moradores eram fake”. Vídeos, fotos e depoimentos de moradores desmentiram o prefeito e reclamaram que são curitibanos esquecidos pela prefeitura.

A moradora Adriana Soares de Lima contou ao Brasil de Fato Paraná que, nesta última chuva, a casa da irmã alagou. “Por sorte, estávamos por perto e conseguimos salvar tudo subindo rápido os móveis. Mas esta é a vida do morador do Parolin. Essa obra nunca acaba, tamparam as entradas das pontes de concreto e acaba que está enchendo mais”. Para ela, o que resta é ajudar uns aos outros, já que sabem que o morador da periferia é esquecido mesmo. “Somos da periferia, favelado, preto, pobre e nunca temos voz”, diz.

Em 2019, o Brasil de Fato também conversou com moradores do bairro Parolin, logo após uma grande enchente em todo o bairro. “No dia da enchente, eu estava com a minha mãe, tirei ela a tempo. Perdi tudo, foi 1,20m de água”, relatou Ronaldo de Souza, morador há 55 anos no bairro. Desde lá as reclamações e problemas só aumentaram. Angélica diz que sempre é desesperador. ”Ver vizinho chorando porque perdeu tudo é cotidiano daqui. Na semana passada gente ouvia criança chorando, gente na rua tentando salvar os móveis”, conta.

Indignação em rimas

O jovem Douglas Eduardo, 20 anos, já sente na pele a indignação pelo esquecimento da periferia pela prefeitura e por políticos. “Quando eu morava na Rua Montezi, eu me deparava sempre - quando chovia bastante - com inundação, gente sem ter onde dormir porque perdeu tudo e também muita gente já morreu por causa de leptospirose, devido aos bueiros entupidos que vazam lixos”, conta. Em rimas, ele expressa sua indignação: “É difícil porque querem comprar o favelado, de 4 em 4 anos volta para pedir voto. A gente acha que tudo vai mudar, mas quando chove a água começa a transbordar alagar casas. Isso acontece dentro da minha quebrada, mas eles não estão aqui para ver a nossa cara”.

Resposta da Prefeitura

Segundo a Prefeitura de Curitiba, a obra será finalizada e está concentrada a implantação do conduto forçado junto ao leito do Rio Vila Guairá, na altura da ponte da Rua Brigadeiro Franco, no Parolin.

Edição: Frédi Vasconcelos