Paraná

Coluna

Disputa pela representatividade política e as barreiras do racismo

Imagem de perfil do Colunistaesd
Apesar do avanço em algumas regiões, nas outras 12 capitais nenhuma mulher negra ou trans está entre os dez mais votados para a vereança - Foto: Pablo Vergara
Os critérios de distribuição ainda são díspares e não se justifica essa lógica

Por muito tempo na História do Brasil os negros foram escravizados para servir aos homens brancos, vivenciando condições extremamente desumanas e desumanizadoras.

Os traços do passado escravista no processo de construção da nossa sociedade capitalista, é inegável. O legado ainda é de uma imagem depreciativa do negro, a hierarquia social extremamente rígida sobre essa população, o sistema carcerário, a ausência de representatividade em vários setores incluindo a política.

O fim da escravidão legal no Brasil não foi acompanhado de políticas públicas e mudanças estruturais para a inclusão e nesse processo de lenta construção de uma população livre se constata que não são apenas as velhas formas que se inserem nas novas, mas que as novas, recorrem às velhas sempre que possível.

Neste ano de 2020, diante do cenário da pandemia, as eleições municipais foram decididas no mês em que se comemora a consciência negra. Na Câmara Municipal de Curitiba, após 327 anos, temos a primeira representante mulher e negra apontando uma enorme mudança de rumo.

Muitas candidaturas de pessoas negras se somaram à disputa e dentre as que receberam mais de 2 mil votos estão: Carolina Dartora (PT), primeira vereadora negra de Curitiba, com 8.874 votos, Herivelto Oliveira (Cidadania), eleito com 6.441 votos, Renato Freitas (PT), eleito com 5.097, Mestre Pop (PSD), suplente com 3.861 votos, a Mandata Coletiva das Pretas suplente com 3.582 votos e Vanda de Assis (PT) com 2.705 votos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a aplicação já em 2020, em resposta à consulta apresentada pela deputada Benedita da Silva e pelo instituto Educafro, da decisão impõe que os partidos distribuam de forma igualitária a verba pública ao número de candidatos negros e brancos que lançassem. Porém, muitos partidos não cumpriram com a determinação não fazendo o repasse e ou prejudicaram essas candidaturas atrasando na tentativa de fazer dessas as chamadas "candidaturas laranjas".

A alegação principal é de falta de tempo para preparo para saber como lidar com a nova regra. Entretanto, algumas candidaturas receberam em tempo hábil o valor destinado para fazer a campanha no período correto. Os critérios de distribuição ainda são díspares e não se justifica essa lógica.

O tempo menor para uso da verba em tempo hábil de campanha de mulheres e negros faz com quem se candidata não tenha a mesma visualização dos demais candidatos e consequentemente, não muda o quadro da situação.

É importante dizer que no mês de novembro, quando falamos em consciência negra, estamos falando da percepção histórica que o povo negro tem de si mesmo e para além disso, estamos também falando sobre a luta dos negros contra a discriminação racial e desigualdade social. Sobre a importância de refletir sobre a posição dos negros na sociedade.

Dessa forma, temos que pensar na luta antirracista de fato. Não apenas em lotar as agendas de negros e negras de atividades para explicar o racismo da sociedade e suas consequências. Mas garantir que a distribuição de verbas seja feita no tempo certo e de maneira igual para que, quem entra na disputa pela representatividade, não seja prejudicado pelo racismo tendo que se manter sendo comandados por pessoas brancas, como também cada indivíduo precisa compreender que, ao deixar de apoiar uma candidatura de negros e negras, também é conivente com o descaso, com a precariedade e exclusão dessa parte da população.

E nesse caso, não adianta dizer que se é de esquerda e nem que faz uma luta antirracista, porque ela não é feita de teorias e hipocrisias, mas sim de ações e votos.

Ainda há muito o que fazer.

Edição: Pedro Carrano