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"Baidenização" no Brasil?

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Há rumores de uma chapa formada por Huck e Leite para uma candidatura ao Planalto em 2022
Há rumores de uma chapa formada por Huck e Leite para uma candidatura ao Planalto em 2022 - Foto: Reprodução
Apenas o marco de uma frente ampla contra Bolsonaro é insuficiente, sem combater o neoliberalismo

A linha narrativa da rede Globo desde a vitória de Joe Biden nos EUA, busca, como um espelho distorcido, fortalecer no Brasil a construção de um nome que, apresentando-se como alternativa ao bolsonarismo e à extrema-direita, tenha um discurso liberal, centrista e, na prática, igualmente neoliberal.

O exemplo estadunidense já está influenciando as articulações políticas no Brasil nos últimos dias, e reforça o chamado campo da direita tradicional e neoliberal no Brasil (que envolve partidos como PSDB, DEM, etc), que não necessariamente é bolsonarista, cujos candidatos inclusive tendem a ser vitoriosos em várias capitais nas eleições municipais.

A direita tradicional, os partidos tradicionais, desgastados nas eleições de 2018, tiveram divergências com Bolsonaro ao longo de 2020, principalmente quando o assunto era como lidar com a pandemia. Basta pensar nas divergências entre Bolsonaro e Rodrigo Maia, Rede Globo e governos estaduais. O limite da contradição é o acordo com o programa neoliberal e de retirada de direitos sociais. Nisso, há um grande aperto de mãos, com Supremo, com tudo.

Ainda assim, é fato, a Globo quer um perfil menos belicoso, menos instável, que ajude também a conter a pressão social e possível crescimento da esquerda. Derrotar Bolsonaro sem abrir qualquer flanco para a esquerda, essa é a meta.

Este debate ao longo do ano, sobre o nível de contradições entre a direita tradicional e o bolsonarismo, gerou debates entre as organizações de esquerda sobre qual o raio de alianças políticas para derrotar o governo neofascista. É fato que uma das conclusões foi que o necessário desgaste e leque amplo da crítica a Bolsonaro não pode prescindir da construção de uma frente de esquerda antineoliberal. Essa foi a elaboração a que chegaram organizações como a Consulta Popular.

Apenas o marco de uma frente ampla contra Bolsonaro é insuficiente, descuidando de combater o neoliberalismo a partir de um programa popular e, sobretudo, construir a frente e a unidade da esquerda. Não devemos buscar um Biden tupiniquim, mas fortalecer desde já o programa popular, o trabalho de base, o fortalecimento da confiança entre as organizações de esquerda, a comunicação e os espaços organizativos.

Edição: Lucas Botelho