Paraná

AUTONOMIA ESCOLAR

Professora acusa: Militarização de escolas é chantagem de governo Ratinho Jr

“A promessa é liberar dinheiro para escolas em troca de que aceitem o fim da eleição para diretores"

Curitiba (PR) |
Ratinho e Bolsonaro.
Ratinho Jr segue sendo fiel ao presidente Bolsonaro. - Rodrigo Felix Leal/ANPr

A professora municipal Andressa Garcia, que já foi do quadro PSS em Ponta Grossa, doutora em Educação, publicou em suas redes sociais um relato duro e contundente, no qual é categórica: com o projeto de militarização, Ratinho Jr quer desmobilizar o conhecimento e a autonomia escolar para eleição de diretores. Confira o relato crítico abaixo:

"As escolas públicas têm problemas. E quem tenta resolvê-los e de que forma?
Quem está lá dentro todos os dias luta cotidianamente para resolvê-los.
Falta investimento, falta estrutura física, sobram turmas superlotadas.
Nos faltam também psicólogos/as e assistentes sociais.
Lutamos por melhorias, denunciamos o sucateamento da educação pública, mas também corremos atrás para tentar dar um “jeitinho”. Enquanto as autoridades não fazem nada ou retiram ainda mais da educação, nós promovemos bazares, rifas, festas para arrecadar dinheiro e tentar solucionar os problemas mais urgentes. Tiramos do nosso bolso e sem plano de carreira para melhorar as condições das escolas públicas.
E o que faz o governo?
Chantagem. É esse o nome para a militarização das escolas.
A promessa é liberar dinheiro para escolas em troca de que aceitem o fim da eleição para diretores, o fim da autonomia financeira para investir em um projeto de educação fundamentado na sua área de referência e discutido coletivamente pela comunidade escolar, a imposição da mudança do currículo com a retirada de aulas de matérias fundamentais como sociologia e filosofia. A chantagem inclui também entregar a autonomia das escolas para os militares, supostamente para resolver os problemas de indisciplina.
É tão contraditório que o governo que até pouco tempo se somava ao Escola Sem Partido pra dizer que a “família educa e a escola ensina”, agora venha com a força militar para querer “educar”, não é?
O movimento Escola Sem Partido, que em Curitiba perseguiu até uma professora da educação infantil que trabalhava cidadania com um projeto da Turma da Mônica, foi derrotado. Foi considerado inconstitucional e não foi aceito pela maioria da população.
Por isso a chantagem.
O ato de ensinar sempre educa, em alguma direção.
Eles são contra aquilo que é de melhor na escola. Não estão preocupados com nossas demandas, mas se incomodam com o fato de que, apesar das péssimas condições que nos são dadas, continuamos a lutar para que a escola seja espaço da relação com o conhecimento para interpretar, agir e mudar o mundo em que vivemos.
Não poderíamos esperar outra coisa de um governo anti-ciência, que tem uma identificação maior com a indústria de armas, milicianos, agronegócio do que com a educação e a qualidade de vida da população.
Aqui no Brasil há um acúmulo enorme de conhecimento e experiências que permitiriam melhorar a qualidade da educação. Por qual razão o dinheiro para isso sempre nos é negado e agora “aparece” para as escolas que se submeterem à chantagem?
Escolas militarizadas não serão Escolas Militares, como aquelas voltadas aos filhos de militares e com concurso para entrar, basta olhar para as experiências de outros estados. Nem os uniformes estão garantidos como o governo propagandeia, isso pode ser conferido no próprio documento que regulamenta a implantação das escolas cívico-militares.
É a chantagem da oferta do dinheiro pelo cala a boca. É a chantagem para o andamento de um projeto que não quer pessoas que pensem, mas que digam “sim, senhor”!
Hoje nos sentimos cansados/as, derrotados/as. Mas amanhã será outro dia, o caminho é longo e não desistiremos de lutar por uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, por nós, por vocês e pelos/as que virão..."

Edição: Pedro Carrano