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Coluna

150 mil mortos por Covid: a inominável tragédia brasileira

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Medidas equivocadas de relaxamento e ausência de linha política nacional do governo Bolsonaro são responsáveis por atual situação - OSCAR DEL POZO / AFP
As mesmas razões que haviam conduzido o Brasil às 70 mil mortes continuaram acontecendo

Em 11 de julho escrevi uma coluna intitulada: “70 mil mortos: o Brasil perdeu a guerra para Covid-19”. Publicada neste mesmo portal Brasil de Fato Paraná, procurava refletir as razões pelas quais entendia que nosso país havia perdido a batalha para o inimigo invisível.

Naquela mesma coluna havia identificado que estimativas indicavam que o Brasil poderia atingir a marca de 120 mil mortos até o desfecho da pandemia. Três meses se passaram e, neste sábado, o Brasil atingiu a impressionante marca de 150 mil óbitos. Este número na estatística oficial pois, muitos estudiosos indicam que o número real seria muito maior. A situação da crise de saúde no Brasil tem evoluído para o pior exemplo do planeta diante da pandemia. Um bom dado para avaliar esse quadro é verificarmos os dados da média de mortos por milhão de pessoas e comparar com outros países.

Naquele período, o Brasil apresentava 249 mortes por milhão de habitantes, a Colômbia tinha um índice de 36 mortes, a Argentina 20 mortes, o Uruguai 6 mortes e o Paraguai 2 mortes por milhão de pessoas.

Decorridos esses três meses o Brasil superou a média de países como Estados Unidos, Irã e Itália. Está cinco vezes acima da média mundial de 132 mortos por milhão. Comparativamente a países da América Latina o Brasil apresenta 700,78 mortes por milhão, enquanto Argentina está em 502,48, Paraguai 141,88, Uruguai 14,11, Colômbia 537,13 e Cuba 10,86. No mundo exemplos importantes de combate ao vírus e preservação de vidas continua sendo a Nova Zelândia cuja média está em 5,08 mortes por milhão e a própria China, país de origem da pandemia e a maior população mundial conta 3,29 mortos por milhão. Ou seja, o Brasil está entre os principais fracassos do combate à doença e assim milhares de vidas se perderam e ainda serão perdidas até que o vírus seja debelado. As mesmas razões que haviam conduzido o Brasil às 70 mil mortes continuaram acontecendo e tudo indica que nenhum movimento de correção de rumos esteja no cenário. Ao contrário, as flexibilizações de movimentação de setores sob pressão econômica, afrouxamento das regras de circulação de pessoas apontam para a manutenção prolongada de contágios e mortes. Por sua vez, o ministro da saúde General Eduardo Pazuello afirmou no lançamento da campanha Outubro Rosa que não sabia o que era o SUS até assumir o ministério que continua sem planejamento e submisso à ideologia do negacionismo do presidente Bolsonaro.

Ao não existir uma linha de orientação nacional abriu-se uma vertente desastrosa para atuação as mais diferenciadas entre governadores e prefeitos. O vai e vem do relaxamento de regras, a falta de discurso sobre os graves efeitos da pandemia tanto da liderança nacional como da maioria dos governadores e prefeitos combinada com uma cobertura cada vez menor da mídia sobre a doença aponta para uma naturalização da crise sanitária que inevitavelmente colocará a perder milhares de vidas que poderiam ser poupadas houvesse respeito à ciência e à vida.
Por fim, havia escrito naquele artigo que um Tribunal Popular seria necessário para o julgamento dos crimes políticos das lideranças que de forma covarde puseram a vida do povo a perder. O ministro Gilmar Mendes naquele mesmo período falou em genocídio. De lá pra cá a política se reacomodou. O presidente da república se afastou dos atos que pediam o fim do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e alguns governadores. Bolsonaro também apagou sua crítica à chamada velha política, afastou os mais radicais e colocou o centrão corrompido, desde o Brasil Colônia para dentro do governo. O maior exemplo foi o empoderamento do deputado Ricardo Barros que serviu a todos os governos desde que chegou em Brasília.

Assim, tudo mais ou menos pacificado no planalto o povo continua sua marcha na acomodação típica da cultura acomodada da maioria do povo. Até dezembro os novos cenários apontam para mais de 180 mil mortos no Brasil. Afinal, tudo indica que nada será feito para evitar a mortandade. Ao contrário, vários estados, inclusive o Paraná do governo bolsonarista de Ratinho Jr (PSD), vem flexibilizando regras, inclusive propondo volta às atividades escolares presenciais. Qual ou quais entidades bancarão a necessidade de julgamento dos criminosos da Covid-19? O Ministério Público, OAB, As igrejas, os parlamentares, os partidos de oposição?

Aos movimentos sindical e popular, mesmo estando cada vez mais atacados pelo status quo da “nova política”, cabe além da defesa dos direitos de seus representados a luta por encontrar a trilha no meio desta mata densa e tenebrosa. Sim, a utopia como nos lembra Eduardo Galeano continua lá, na linha do horizonte, exatamente para que continuemos caminhando.

Edição: Pedro Carrano