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Volta às aulas é bom para quem?

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Professores consideram que volta às aulas nesse momento é colocar crianças e profissionais da educação em risco - Foto: Arquivo/EBC
Pesquisas realizadas por entidades sindicais mostram que mães não querem o retorno das aulas

Uma incerteza potencializa a angústia de mães trabalhadoras com filhos em idade escolar nesse contexto de pandemia: após mais de seis meses de isolamento social, com a presença das crianças em casa, avançam tratativas para reabertura das escolas.

Foi num cenário de muitas narrativas e nenhum dado disponível que iniciei articulações com coletivos de mulheres para que pesquisas de opinião fossem realizadas com as mães trabalhadoras, que tiveram suas jornadas múltiplas e condições de trabalho atravessadas pelas aulas online de seus filhos durante a pandemia de COVID-19.

O incômodo surgiu no início do mês de agosto, quando começou-se a estudar, por parte do poder público aqui no Paraná, pretensos protocolos sanitários de retorno às aulas a partir de setembro. O discurso é que os estudos seriam indicativos, mas que estariam condicionados à queda de taxa ocupacional de UTI, boletins epidemiológicos, bandeiras de monitoramento.

Não existe um binarismo sobre de um lado estarem os proprietários de escolas particulares e de outro as mães e responsáveis pelos estudantes, pois existem todos os funcionários e professores de escolas, as esferas públicas e privadas, as diversas faixas educacionais, o acesso ou não virtual aos conteúdos, as ferramentas utilizadas, a disponibilidade dos responsáveis em permanecer em casa e dar suporte escolar, a situação emocional de todas essas pessoas e outra infinidade de fatores conjunturais, como acesso à saúde, a transporte, ao trabalho, à alimentação, ao lazer, a coabitação com pessoas do grupo de risco.

Não é simples, mas podemos partir de dados. No início de setembro, a Federação Nacional dos Jornalistas divulgou uma pesquisa ampla, com respostas de mais de 600 mães jornalistas de todo o país, sobre as condições de trabalho na pandemia. Dos resultados, ainda que quase 60% esteja em home-office e que 85,8% declararem se sentirem sobrecarregadas, 88,39% não concordam com o retorno das aulas presenciais.

Podemos trazer a discussão para nosso estado e ampliar o diagnóstico para outras mães trabalhadoras, para além da categoria das jornalistas profissionais. De acordo com pesquisa encampada pela CUT Paraná, divulgada no Encontro Estadual de Mulheres da Central Única das Trabalhadoras, em que 80% das respondentes trabalham com carteira assinada, mas apenas 38,5% estejam trabalhando em home-office, 86,1% não concordam com o retorno das aulas presenciais.

O poder público, executivo e legislativo, e as entidades representativas dos diversos setores que queiram travar esse debate precisam primeiro ouvir essas mães e as entidades sindicais de representação das mulheres trabalhadoras, que são as mais sobrecarregadas com o adiamento do retorno às aulas presenciais, mas, ainda assim, esmagadoramente contra esse retorno.

Edição: Pedro Carrano