Em plena pandemia, a Polícia Militar do Paraná tem feito, diariamente, operações com cerca de 200 policiais, migrando entre bairros de Curitiba, abordando pessoas e veículos. “O comando reúne o efetivo de várias partes da cidade num único local. Embarca esses homens em viaturas e vai para uma parte da cidade, revistando pessoas, revirando carros, tocando em tudo. No outro dia, tudo de novo, em outro canto da cidade”, relata um policial ouvido pela reportagem, cuja identidade será preservada.
As operações têm foco nas regiões mais empobrecidas da cidade. O PM conta que, em um dia, chega a revistar mais de 30 pessoas. “As máscaras e álcool em gel foram só na primeira semana de março. De lá para cá, é cada um por si”, diz. Ele relata ainda que não são realizados testes nos policiais e não existe informação sobre o número infectados.
Quem coordena o policiamento em Curitiba é o coronel Hudson Teixeira, comandante do 1º Comando Regional de Polícia Militar (CRPM). Em março, ele foi denunciado por violar medidas de segurança contra o coronavírus.
O PM ouvido pelo Brasil de Fato Paraná pertence a um efetivo subordinado ao coronel Hudson. Ele relata que, além do risco de contágio, a tropa está cumprindo jornadas mais longas de trabalho, muitas vezes de 50 horas semanais. “Nem as escalas de trabalho estão sendo divulgadas. Ficamos sabendo com poucas horas de antecedência”, diz.
A polícia está criando suas próprias leis
Apenas nesta semana, o movimento Policiais Antifascismo recebeu denúncias de outros três policiais sobre a mesma situação. “A polícia não está agindo como um órgão de Estado. Eles estão criando suas próprias leis. A Secretaria de Saúde do Estado e do município estão tomando medidas para evitar o contágio. A polícia está fazendo o contrário, como se ela não tivesse que cumprir a lei”, diz Martel Del Colle, policial militar aposentado e coordenador estadual do movimento.
A demanda dos Policiais Antifascismo é que a PM do Paraná investigue a atuação do coronel Hudson Teixeira. “Se a situação coloca em risco outros policiais, ele tem que ser afastado”, diz Del Colle. A reportagem procurou a PM, relatando o teor das denúncias e solicitando posicionamento oficial. Até o fechamento desta edição, não houve resposta.
Edição: Gabriel Carriconde